segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Um Pequeno Conto (Parte XVII)


A noite havia sido mais cansativa do que você imaginava. A discussão dos reis levou horas antes que a guerra fosse de fato declarada: Os ânimos estavam exaltados, mas seu rei tentou a qualquer custo não fazer a guerra. Não é como se Caspian temesse Arãn, ao contrário, o que o jovem rei narniano queria era evitar o derramamento de sangue inocente. Porém, quando um homem quer guerrear apenas por orgulho e soberba não há nada que se possa fazer para trazê-lo a razão.

Você sabia que a preocupação de Caspian era legítima e não estava naqueles que cairiam em campo de batalha, pois estes o farão voluntariamente. Mas no povo, telmarino e narniano, que não pega em armas. No sangue de jovens e crianças, senhores de idade e filhotinhos que ficarão órfãos caso o Tisroc encontre uma brecha na formação de batalha de Nárnia.


A lua já estava alta quando a estratégia de defesa das muralhas de Cair Paravel e da evacuação dos gentílicos do castelo e de animaizinhos indefesos fora tomada. Para o confronto do primeiro dia ficou decidido que você lideraria um regimento de cerca de 50 narnianos na retirada do povo de dentro das muralhas, incluindo nobres e servos. Da retirada dos animaizinhos de suas tocas na floresta, cuidariam os animais falantes de pequeno porte, mas não menos valorosos e nobres (lembrem-se de Ripchip), os ratos e os gatos e lobos, que faziam uma trégua em suas disputas particulares e trabalhavam em conjunto sempre que Nárnia precisava de seus guerreiros valorosos.

Quando todos se retiraram você permaneceu acordada assistindo a chuva que caía e banhava Nárnia. Seu coração estava miúdo, apertado no seu peito, sob a perspectiva de uma guerra e por não saber como Mensis estava se saindo. Na verdade a tensão e a adrenalina corriam por suas veias duas vezes mais rápido que o sangue bombeado por seu coração. Aos seus pés estava o único amigo que lhe fora permitido levar a Nárnia e talvez o único que tenha permanecido ao seu lado depois da chegada de Suzana: o gato siamês de estimação estava ronronando se esfregando aos seus pés.

 Juntos vocês foram, pé ante pé, até o quarto de Caspian, apenas para verificar se seu rei está em segurança. Você abriu a porta silenciosamente e o jovem líder já estava ressoando baixinho, calmo em seu sono. Você se aproxima da cama e lhe dá um beijo na testa. Permanece um tempo de pé ao lado de sua cama apenas o observando dormir. O luar invadia o quarto e banhava o rosto do soberano. “Como ele pode dormir assim tão calmo, Lance? Eu nem consigo ficar parada? Meu coração parece querer sair pela garganta!”. O gatinho apenas se enrosca na sua perna, mia baixinho aquele miado doce e suave que tanto te conforta em momentos tristes e se dirige a porta, como se a convidasse para sair.


Já era madrugada, seu relógio marcava duas da manhã quando você finalmente pegou no sono. Ao seu lado, aninhado em suas costelas, estava Lance, dormindo e ressoando bem baixinho. Silenciosamente, você agradeceu a Aslan por este amiguinho ter podido ir a Nárnia com você e por tê-lo agora ao seu lado, quando o que você mais precisa é de alguém que lhe conforte. O sono veio mais rápido do que o esperado e sem nem perceber os braços dormentes do sono a envolvem e você aceita o convite para descansar.

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O sono chegou e trouxe com ele sonhos muito estranhos. O primeiro sonho se tratava de um incêndio em uma imagem de Tash era destruída pelo fogo. O segundo era um pouco mais assustador: a formação narniana (animais falantes, centauros, minotauros, faunos e todos os narniano aptos a guerra) se moviam em direção o lado esquerdo da muralha e, então se seguiram os sonhos mais estranhos ainda:

Sonhou que Aslan estava em seu quarto e a juba do Leão era como um sol iluminando cada pequeno ponto de escuridão ali. Mesmo em sonho, você sentiu uma paz que só sentira na vez em que o Grande Leão a visitara no jardim do castelo, durante seu baile de apresentação. A sensação era ótima e você se sentia abraçada por braços invisíveis, calorosos. Mas os olhos de Aslan eram tristes e se moviam de você para Lance.

O mais interessante desse sonho era que Aslan não falava com você e sim com Lance. O Grande Leão estava sentado e a frente dele estava Lance que parecia entender e responder a tudo que Aslan dizia. À medida que você observava, o bichano parecia crescer e ganhar mais inteligência até que a coleira que você havia posto nele com a plaquinha de identificação ficou apertada e o próprio Aslan a arrancou com uma unhada. Como que satisfeito com seu trabalho, Aslan deu uma breve lambida na testa de Lance e disse: “ – Será difícil, mas Nárnia precisará que você tenha coragem...” e ao lançar outro olhar triste em sua direção, Ele continua: “ - ...e ela também precisará de sua coragem!”

Então o Grande Leão se dirigiu a você, soprou um sopro quente sobre seu rosto e lhe deu uma suave lambida na testa. “ – Pronto, não se sinta mais indefesa e só. Eis um amigo que a ajudará quando você menos esperar! Mas agora temos um trabalho a fazer, venha comigo!”

A este sonho se seguiu um mais confuso e completamente diferente dos outros: você estava em uma Londres de quase de cinqüenta décadas atrás, ao menos é o que parecia aos seus olhos. Você e Aslan caminhavam como se o tempo não existisse e com um balançar da juba do Leão, vocês foram transportados para um dormitório de faculdade. A sua frente três rapazes dormiam um sonho tranqüilo. Epa! Não tão tranqüilo assim! Um deles, um rapaz loiro de ombros largos se revirava em sua cama. Era como se ele estivesse tendo um pesadelo, pois emitia sons parecidos com quando você está lutando para se defender e atacar. O rosto do rapaz estava suado e os cabelos grudados em sua testa. Você queria despertá-lo, mas algo na expressão do jovem dizia que não era uma boa idéia. Era uma expressão régia, obstinada de alguém que lideraria seus homens a morte se isso significasse liberdade para muitos.
Aslan se aproximou do jovem e olhou para você. Um sorriso brincou nos olhos do Leão, “creio que Caspian precisará de mais ajuda do que ele mesmo imagina, Princesa! Os perigos são muitos, Arãn é capaz de coisas piores do que todos vocês pensam. Caspian precisará de alguém capaz de liderar mesmo em momentos em que a esperança parecerá ter morrido e ele mesmo precisará aprender isso! E você precisa saber que não importa a situação eu sempre estou ao lado dos meus escolhidos! Conhecer os aliados, seus irmãos juramentados por mim, antes que eles cheguem, é sua nova missão! Preste atenção, pois você também lutará, aprenda a não deixar seus pensamentos e sentimentos a seduzirem! Lembre-se do que aconteceu no Castelo de Miraz, não repita o mesmo erro! Caspian precisa de irmãos e não de concorrentes pela coroa!”. Então o Leão soprou e o rosto do rapaz se suavizou, somente um som saiu de seus lábios. “Aslan!”, foi o que ele disse com um semblante calmo e sereno. Então o Grande Leão voltou para o seu lado e falou em voz grave e profunda:

“ – Levante-se Grande Rei Pedro, o Magnifíco! Você defenderá Nárnia mais uma vez!”. O jovem despertou e você se deparou com um rosto pouca coisa mais velho que o de Caspian. Os olhos azuis vivos estavam serenos e um sorriso brincou nos lábios de Pedro. Como se ainda estivesse dentro de seu sonho, Pedro disse: “ – Aslan, eu sabia que você viria, eu nunca esqueci de você. Meu coração esteve em chamas todos estes dias. Obrigado por vir!”.

O jovem abriu os olhos e os seus olhos encontraram os dele, e antes que você pudesse dizer algo, Aslan deu um passo e você estava de novo em sua cama. “ Você ainda tem muito o que aprender, minha Princesa, mas saiba que este rapaz não vem para reclamar uma coroa, não tenha medo, pois dessa tormenta nascerão frutos que atravessarão os séculos!”

Ao ver Aslan chamando o Grande Rei para a guerra, você soube que apesar de todas as dores da separação que enfrentou ao sair de seu mundo, você ganhou algo muito maior e melhor, pois a família de Nárnia atravessa os séculos e o tempo, você não está só. Mas no final, a única coisa que interessa é que, apesar dos perigos, o auxílio sempre virá de Além Mar.

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Kamila Mendes

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