A noite havia sido mais cansativa do que você imaginava. A
discussão dos reis levou horas antes que a guerra fosse de fato declarada: Os
ânimos estavam exaltados, mas seu rei tentou a qualquer custo não fazer a
guerra. Não é como se Caspian temesse Arãn, ao contrário, o que o jovem rei
narniano queria era evitar o derramamento de sangue inocente. Porém, quando um
homem quer guerrear apenas por orgulho e soberba não há nada que se possa fazer
para trazê-lo a razão.
Você sabia que a preocupação de Caspian era legítima e não
estava naqueles que cairiam em campo de batalha, pois estes o farão
voluntariamente. Mas no povo, telmarino e narniano, que não pega em armas. No
sangue de jovens e crianças, senhores de idade e filhotinhos que ficarão órfãos
caso o Tisroc encontre uma brecha na formação de batalha de Nárnia.
A lua já estava alta quando a estratégia de defesa das
muralhas de Cair Paravel e da evacuação dos gentílicos do castelo e de
animaizinhos indefesos fora tomada. Para o confronto do primeiro dia ficou
decidido que você lideraria um regimento de cerca de 50 narnianos na retirada
do povo de dentro das muralhas, incluindo nobres e servos. Da retirada dos
animaizinhos de suas tocas na floresta, cuidariam os animais falantes de
pequeno porte, mas não menos valorosos e nobres (lembrem-se de Ripchip), os
ratos e os gatos e lobos, que faziam uma trégua em suas disputas particulares e
trabalhavam em conjunto sempre que Nárnia precisava de seus guerreiros
valorosos.
Quando todos se retiraram você permaneceu acordada
assistindo a chuva que caía e banhava Nárnia. Seu coração estava miúdo,
apertado no seu peito, sob a perspectiva de uma guerra e por não saber como
Mensis estava se saindo. Na verdade a tensão e a adrenalina corriam por suas
veias duas vezes mais rápido que o sangue bombeado por seu coração. Aos seus
pés estava o único amigo que lhe fora permitido levar a Nárnia e talvez o único
que tenha permanecido ao seu lado depois da chegada de Suzana: o gato siamês de
estimação estava ronronando se esfregando aos seus pés.
Juntos vocês foram, pé ante pé, até o quarto de Caspian,
apenas para verificar se seu rei está em segurança. Você abriu a porta
silenciosamente e o jovem líder já estava ressoando baixinho, calmo em seu
sono. Você se aproxima da cama e lhe dá um beijo na testa. Permanece um tempo
de pé ao lado de sua cama apenas o observando dormir. O luar invadia o quarto e
banhava o rosto do soberano. “Como ele pode dormir assim tão calmo, Lance? Eu
nem consigo ficar parada? Meu coração parece querer sair pela garganta!”. O
gatinho apenas se enrosca na sua perna, mia baixinho aquele miado doce e suave
que tanto te conforta em momentos tristes e se dirige a porta, como se a
convidasse para sair.
Já era madrugada, seu relógio marcava duas da manhã quando
você finalmente pegou no sono. Ao seu lado, aninhado em suas costelas, estava
Lance, dormindo e ressoando bem baixinho. Silenciosamente, você agradeceu a
Aslan por este amiguinho ter podido ir a Nárnia com você e por tê-lo agora ao
seu lado, quando o que você mais precisa é de alguém que lhe conforte. O sono
veio mais rápido do que o esperado e sem nem perceber os braços dormentes do
sono a envolvem e você aceita o convite para descansar.
------------------------ # # #
--------------------------------- # # #
--------------------
O sono chegou e trouxe com ele sonhos muito estranhos. O
primeiro sonho se tratava de um incêndio em uma imagem de Tash era destruída
pelo fogo. O segundo era um pouco mais assustador: a formação narniana (animais
falantes, centauros, minotauros, faunos e todos os narniano aptos a guerra) se
moviam em direção o lado esquerdo da muralha e, então se seguiram os sonhos
mais estranhos ainda:
Sonhou que Aslan estava em seu quarto e a juba do Leão era
como um sol iluminando cada pequeno ponto de escuridão ali. Mesmo em sonho,
você sentiu uma paz que só sentira na vez em que o Grande Leão a visitara no
jardim do castelo, durante seu baile de apresentação. A sensação era ótima e
você se sentia abraçada por braços invisíveis, calorosos. Mas os olhos de Aslan
eram tristes e se moviam de você para Lance.
O mais interessante desse sonho era que Aslan não falava com
você e sim com Lance. O Grande Leão estava sentado e a frente dele estava Lance
que parecia entender e responder a tudo que Aslan dizia. À medida que você
observava, o bichano parecia crescer e ganhar mais inteligência até que a coleira
que você havia posto nele com a plaquinha de identificação ficou apertada e o
próprio Aslan a arrancou com uma unhada. Como que satisfeito com seu trabalho,
Aslan deu uma breve lambida na testa de Lance e disse: “ – Será difícil, mas
Nárnia precisará que você tenha coragem...” e ao lançar outro olhar triste em
sua direção, Ele continua: “ - ...e ela também precisará de sua coragem!”
Então o Grande Leão se dirigiu a você, soprou um sopro
quente sobre seu rosto e lhe deu uma suave lambida na testa. “ – Pronto, não se
sinta mais indefesa e só. Eis um amigo que a ajudará quando você menos esperar!
Mas agora temos um trabalho a fazer, venha comigo!”
A este sonho se seguiu um mais confuso e completamente
diferente dos outros: você estava em uma Londres de quase de cinqüenta décadas
atrás, ao menos é o que parecia aos seus olhos. Você e Aslan caminhavam como se
o tempo não existisse e com um balançar da juba do Leão, vocês foram
transportados para um dormitório de faculdade. A sua frente três rapazes
dormiam um sonho tranqüilo. Epa! Não tão tranqüilo assim! Um deles, um rapaz
loiro de ombros largos se revirava em sua cama. Era como se ele estivesse tendo
um pesadelo, pois emitia sons parecidos com quando você está lutando para se
defender e atacar. O rosto do rapaz estava suado e os cabelos grudados em sua
testa. Você queria despertá-lo, mas algo na expressão do jovem dizia que não
era uma boa idéia. Era uma expressão régia, obstinada de alguém que lideraria
seus homens a morte se isso significasse liberdade para muitos.
Aslan se aproximou do jovem e olhou para você. Um sorriso
brincou nos olhos do Leão, “creio que Caspian precisará de mais ajuda do que
ele mesmo imagina, Princesa! Os perigos são muitos, Arãn é capaz de coisas
piores do que todos vocês pensam. Caspian precisará de alguém capaz de liderar
mesmo em momentos em que a esperança parecerá ter morrido e ele mesmo precisará
aprender isso! E você precisa saber que não importa a situação eu sempre estou
ao lado dos meus escolhidos! Conhecer os aliados, seus irmãos juramentados por
mim, antes que eles cheguem, é sua nova missão! Preste atenção, pois você
também lutará, aprenda a não deixar seus pensamentos e sentimentos a seduzirem!
Lembre-se do que aconteceu no Castelo de Miraz, não repita o mesmo erro!
Caspian precisa de irmãos e não de concorrentes pela coroa!”. Então o Leão
soprou e o rosto do rapaz se suavizou, somente um som saiu de seus lábios.
“Aslan!”, foi o que ele disse com um semblante calmo e sereno. Então o Grande
Leão voltou para o seu lado e falou em voz grave e profunda:
“ – Levante-se Grande Rei Pedro, o Magnifíco! Você defenderá
Nárnia mais uma vez!”. O jovem despertou e você se deparou com um rosto pouca
coisa mais velho que o de Caspian. Os olhos azuis vivos estavam serenos e um
sorriso brincou nos lábios de Pedro. Como se ainda estivesse dentro de seu
sonho, Pedro disse: “ – Aslan, eu sabia que você viria, eu nunca esqueci de
você. Meu coração esteve em chamas todos estes dias. Obrigado por vir!”.
O jovem abriu os olhos e os seus olhos encontraram os dele,
e antes que você pudesse dizer algo, Aslan deu um passo e você estava de novo
em sua cama. “ Você ainda tem muito o que aprender, minha Princesa, mas saiba
que este rapaz não vem para reclamar uma coroa, não tenha medo, pois dessa
tormenta nascerão frutos que atravessarão os séculos!”
Ao ver Aslan chamando o Grande Rei para a guerra, você soube
que apesar de todas as dores da separação que enfrentou ao sair de seu mundo,
você ganhou algo muito maior e melhor, pois a família de Nárnia atravessa os
séculos e o tempo, você não está só. Mas no final, a única coisa que interessa
é que, apesar dos perigos, o auxílio sempre virá de Além Mar.
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
Kamila Mendes
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
Kamila Mendes
Marcadores: FICS