Hoje acordei meio poetiza, sei lá! Com vontade de contar e cantar as belezas do meu Rio Mar. Mas as palavras que tenho soam pobres demais para expressar o orgulho que tenho dessas águas barrentas, arredias, amáveis e tão misteriosas. Por esse motivo, busquei entre os poesias mais belas que já li.
Encontrei o livro de Thiago de Mello, Amazonas, pátria da água e agora transcrevo um trechinho lindo e sincero, cheio de história e vida desse Rio que maravilha os turistas e encanta seus admiradores cheio de mitos e lendas.
O Rio das Amazonas. Percorre mais de seis mil quilômetros, desde o fio de água que desce do lago Lauri , Lauricocha, na cabeça dos Andes, desce também de Vilcanota, e logo e vai tomando corpo no Urubamba, transforma-se no Ucayali, logo se engrossa no longo Maracañon, para abrir-se no caudal do Solimões, estendo os incontáveis braços sinuosos pela selva peruana, mas já aprofundando sua calha principal para entrar no Brasil, com o mesmo nome, entre as árvores que vai arrancando das margens, ao fragor dos barrancos que se despencam. Dono do seu caminho, ao ímpeto dos seus quase duzentos mil metros cúbicos por segundo, avança até encontrar-se com o Negro, território de mistérios a água barrentas de um jamais se misturando com as pretíssimas do outro: é ali que ele se faz Amazonas propriamente dito, impetuoso, varando profundo o Estreito de Breves, de onde sai se alargando, se espalhando desmedido pela baía de Marajó, as suas ondas chegam a parecer de mar alto: é que ali ele convoca orgulhoso as suas energias para o encontro com o mar Atlântico e empurrar para trás as águas do oceano até distâncias enormes.
É verdade que o mar se vinga. Reúne as suas forças salgadas - até cento e cinquenta quilômetros depois da embocadura do Amazonas o mar fica adocicado - e retorna com fúria, em ondas de muitos metros de altura, que rolam grossas e com grande estrondo - é a pororoca - por sobre as águas do rio, derrubando margens, afundando batelões e até navios.
(Thiago de Mello, Amazonas, pátria da água, 1987, p. 20 - 22)
Escolhi esse poeta porque faz parte dessa terra. Nascido no interior do Estado do Amazonas, sua escrita praticamente canta as belezas amazônicas e clama pela defesa da natureza.
Esse poema é uma homenagem dele, que emprestei nesse momento, para poder dizer o quanto esse Rio é generoso: ele se doa as populações e exige apenas respeito.
Kamila Mendes
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