Quebrando o encanto

Olhando aquelas fotos, era estanho perceber, e até mesmo admitir, mas o encanto se fora. Não por completo, ainda havia vestigios que tiravam seu folego, mas já não havia o toldo de fantasia cobrindo seu coração e protegendo das interperies da vida.

Uma por uma, as fotos foram depositadas sobre a cama, em cima do lençol amassado. Lágrimas desciam vertigionosas e grossas, mas não era saudade que escorria de seus olhos. Era alívio. Uma sensação inerente a paz tomava conta de seu ser.

Um sorriso brincava nos lábios da garota enquanto uma sensação quente e suave enchia seu peito. As nuvens negras se tornaram cinza e pouco a pouco uma brisa suave as soprava para fora de seu ceu.

A música, aquela canção que outrora lhe fazia vergar como um galho fino e verde em uma forte ventania, j;a não lhe remetia a períodos suaves e belos. Agora trazia riso e gozo ao peito. Sensação de obstáculo vencido. Na realidade, era como Anália se sentia: vitoriosa. Enfrentara seus medos, não sozinha e nem se quer acreditando que conseguiria, mas aí é que está o gosto da vitória para ela. Quando nem mesmo ela acreditava, o Sol brilhou mais uma vez.

Saiu de cima de suas pernas, onde estava sentada. A planta de seus pés tocou o gelo suave do azulejo amarelo do chão de seu quarto. A sensação era boa. O arrepio provocado a fez rir e riu generosamente.

O encanto estava sumindo, permitindo com que pudesse sentir o mundo outra vez e sem a sombra da tristeza que nublava sua razão e sentidos. Queria, agora, experimentar o mundo. Sentir novos sabores e perfumes e encontrar um abraço forte no qual se jogar.

Amizade. Palavra complicada e simples, doce e suave, forte e turvadora de alguns sentidos. Ela ia buscar além dos muros da fortaleza que constríra dentro de si mesma.

Com os pés descalços dançou ao som de uma melodia imaginária. Deixou ovestido suave e amarelo se soltar e se mover ao ritmo daquela música que só seus ouvidos registravam. Bailou ao redor do quarto. Música de alegria, reencontro. Música de paz!

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Kamila Mendes