As mãos ficam suspensas no ar. O olhos ardem e a cabeça roda
em busca de algo para contar, fantasiar, criar. Mas nada está no lugar. Nada faz
sentido e o vazio persiste no espaço minino entre o teclado e meu coração.
A chuva se abateu no meu peito e parece ter levado embora
todo o sentido das palavras. Em uma enxurrada de decepção vi desaparecer a
essencia daquilo que eu quero ser. Bloqueios me fazem perder o chão. Me fazem
perder o senso de quem sou. Me perco de mim mesma.
Há uma ‘desconexão’ daquilo que sou com aquilo que quero ser,
no momento em que as palavras não se derramam de dentro de mim. Quero banhar a
folha em branco com emoções e fantasias e simplesmente me perco no deserto
árido do ‘não ser’.
Falta água, falta verde, falta vida. Falta cheiro, falta
cor. Falta você!
Falta algo que eu não sei ao certo o que é. Os olhos param
paralisados a procura de algo que verdeje diante de mim. Que dardeje como uma
borboleta que, ao sair do casulo, seca suas pequeninas asas. Quero vida. Quero cor.
Quero desafios. Combater, lutar, voar. Transbordar!
Mas a imensidão seca se estende diante de mim. Me confronta
com seu cheiro de morte e dor. Fecho os olhos e nego minha insignificância em
um mundo de palavras ao qual luto para pertencer. Me vejo diante de um espelho
d’água. Um pálido reflexo do que pode vir a ser.
Corro sedenta e me lanço em busca de uma fonte. Algo que dê
sentido a essa luta desvairada de me derramar no fluir de letras conexas e
desconexas. A intensidade do fluxo não interessa. O que importa é que vi um
suave brilho, uma poça de água em um deserto de sal.
Água doce que nutre os mais ressecados terrenos e que faz
brilhar, dentro de mim, a força para continuar a lutar, para continuar a
saborear minha existência, a essencia de quem sou!
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Kamila Mendes
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