terça-feira, 17 de julho de 2012

Lamento

Sentada num canto escuro, encolhida, abraçando a si mesma. As lágrimas desciam como fontes desbravando o deserto de seu rosto. O peito arfava rapidamente no esforço de não tornar aquele momento em um espetáculo. 

Queria ficar só, precisava ficar só. Deveria ficar só.
No escuro não podia ver o próprio horror estampado no rosto. Mas era esta a intenção: não ver nada, não ver viva alma. Queria permanecer assim: quieta, solitária. Vazia! A dor extrapolava os limites físicos. Nada que fizesse poderia calar o que estava sentindo. 

E ela tentou calar. Tentou sufocar. Levantou lentamente. Sentiu cada membro do seu corpo enrijecido. Era difícil levantar. Mas difícil ainda era enxugar as lágrimas. 

Andou pé ante pé. Sentiu o frio dos ladrilhos percorrendo suas pernas e arrepiando todo o corpo. Os dedos deslizaram pela parede fria, trazendo outro estremecimento. Acendeu a luz. Não se assustou com o que viu diante de si. A imagem refletida no espelho era o reflexo exato de sua alma.

As mãos tremulas tentaram limpar o rosto. 

Uma pontada no peito e já estava mais uma vez encolhida, chorando. Se derramando de dentro pra fora. Palavra alguma poderia definir o tamanho de sua dor. Uma luta, um conflito dentro de si, reverberava pelas pálpebras. Os soluços altos poderiam ser ouvidos por alguém...se houvesse alguém para ouvir.
Olhava ansiosa para o corredor a espera de alguém. Seu corpo se quebrava inteiro de dentro pra fora e nada, nem ninguém percebia. Dias dessa forma, meses com essa dor e apenas o silêncio a acompanhava.

Sentada sobre o chão duro e frio, costas contra a parede e pernas apertadas contra o peito. Sentia como se a qualquer momento pudesse se despedaçar. Qualquer brisa suave lhe tiraria o fôlego do peito.

Ninguém entenderia. Ninguém se quer notou. Percorria corredores lotados de gente, nenhum olhar se quer lhe transmitia amor.

Vergonha, dor, maldição!

Sentimentos contrários enchiam seu peito, sua mente. Explodiam no corpo. Fechou os olhos e uma avalanche de soluços a acometeu. Chorava copiosamente. O ar já não permanecia em seus pulmões, era expulso pelos solavancos dos soluços e do arfar do choro copioso e violento. Queria apenas uma mão descansando em sua cabeça.

Um colo, era pelo que ansiava. Apenas uma demonstração real de amor. Algo palpável e doce como mel. Alguém para abraçar, para se sentir cuidada e protegida. Alguém a quem pertencer!

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Kamila Mendes

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