sábado, 14 de julho de 2012

Um pequeno Conto (Parte XII)

“É um lindo pôr-do-Sol, mas eu não estou admirando o espetáculo da natureza. Estou montada em um alazão branco, usando um vestido vermelho com uma armadura por cima, com meu braço estendido as costas para alcançar Fúria das estrelas. O cheiro de sangue impregna o ar e minha espada canta uma canção de vingança e morte. Algo foi tirado de mim e eu vou ter de volta ou não serei mais rainha de Nárnia...”
Você acordou com o badalo do sino principal que anuncia a chegada de alguém importante. Esse sino só é tocado quando Caspian está chegando de algum lugar, então você só pode supor que um rei está a caminho. Deitada na cama, enquanto pensa essas coisas, você ouve a profunda voz de Aslan a alertando “ – Começou, prepare-se!”


Foi dificil dizer adeus, mas eu tive q fazer. Nada do que eu disse realmente quis dizer. Queria ter feito o contrário. Ter agido de uma forma diferente. Mas eu sei que seria errado. Posso ter perdido um amigo tão precioso.

Depois de ter ouvido a voz mais uma vez, você se arrumou rápido, da melhor forma que pode, e colocou Fúria das Estrelas as suas costas e agora está de pé diante da janela da sala de reuniões real e observa uma nuvem de poeira que se ergue no horizonte. Sem que você espere, Caspian se aproxima por trás de você e lhe abraça apertado, ignorando a espada, e fala próximo ao seu ouvido, há angustia em sua voz:

“ – Me perdoe meu amor, eu deveria ter contado, mas não considerei a possibilidade de ele vir mais cedo do que o previsto! Não deveria ter deixado você na escuridão dos fatos!”

Assustada você se vira e vê preocupação no rosto de Caspian e, tocando o vinco que se formou na junção entre a testa e o nariz do rei, você pergunta:

“ – O que você deixou de me contar, meu rei?”

Com um suspiro profundo, tão peculiar ao seu rei, Caspian a olha nos olhos e responde:

“ – Arãn, o rei da Calormânia está vindo. Ele pretende promover uma aliança entre os reinos. Uma aliança comercial e política com Nárnia. Mas todos sabemos que os calormanos sempre quiseram conquistar Nárnia e como posso fazer uma aliança com um povo cuja a moeda vigente é mão de obra escrava? Protelei esse encontro o quanto pude, mas ele se adiantou e veio até nós. Sinceramente, minha princesa, não sei o que fazer para evitar uma guerra. Pois todos sabem que negar uma proposta de “amizade calormana” significa guerra declarada para esse povo!”

Com uma calma fria você o olha nos olhos e declara:


“ – Então façamos guerra! Você é o rei de Nárnia, coroado por Aslan, não deve deixar que um povo que não conhece a maravilhosa existência do Grande Leão subjugar as leis instituídas pelo próprio filho do Imperador de Além Mar”

Com a mansidão retornando a sua voz, você toma o rosto de Caspian em suas mãos e continua:

“ – Não se esqueça, meu amor, que o próprio Aslan falou durante a criação de Nárnia, que os narnianos seriam livres, que os animais falantes não deveriam subjugar os não falantes e sim cuidar deles. Instituiu também o governo de Nárnia a um filho de Adão e a uma filha de Eva, Rei Franco e Rainha Helena, para que eles fizessem reinar a equidade, humildade e amor ao próximo dentre os narnianos! Então seu papel como rei é assegurar que a escravidão não volte a Nárnia, uma vez que Aslan já erradicou essa atividade abominável quando derrotou a Feiticeira Branca. Não se esqueça também que eu estou ao seu lado e que eu amo você. Independente de ser rei ou não, eu te amo Caspian!”


Caspian a beija e vocês permanecem abraçados tempo suficiente para que seu rei se encha de coragem e vá recepcionar Balian, o tão temível rei da Calormânia.


Enquanto Caspian se dirige a entrada principal, você pensa em Aslan e, silenciosamente, pede ajuda, proteção e sabedoria, para que Caspian consiga administrar essa situação. Sua oração é interrompida, quando o rei se volta para você, antes de fechar a porta e diz:

“ – Coloque a coroa, Princesa dos Vales do Leste, e vista-se, não como uma serva, mas como a princesa compromissada com um rei e venha até a entrada principal. Quero você ao meu lado para, juntos, recepcionar o rei calormano.”

Seu coração para pelo tempo de uma batida. O sangue parece congelar em suas veias. Sem conseguir dizer palavra, você se curva diante do rei e segue para seu quarto.

Enquanto se veste, você pensa que este talvez seja o maior desafio de todos: recepcionar um soberano que quer derrubar o seu rei do trono de Nárnia e instituir em uma terra pacífica o regime de escravidão para, em seguida, caçar até a total extinção todos os narnianos e animais falantes, para que ninguém ouse pensar em Aslan.

Quando você chega a essa conclusão, um rugido se faz ouvir nos quatro cantos do reino. O exército calormano para e estremece, seus cavalos estão assustados. Da janela de seu quarto você vê o rei Balian olhando atordoado para todos os lados, tentando encontrar o dono do rugido. Então os narnianos gritam: “Salve Aslan, o grande Leão”. E você sabe que Ele não deixará Nárnia indefesa, afinal ainda faltam chegar a Nárnia três dos antigos reis, isso é, se eles realmente virão.

Seu sorriso de vitória se apaga quando, sem bater a porta, o professor entra para lhe levar até o saguão principal.

“ – Mi Lady, devo lhe conduzir até a entrada do castelo, mas antes existe algo que a senhorita deve saber. Os reis calormanos, durante séculos, fizeram guerra com reinos rivais e derrubaram seus reis. Mas o que a senhorita não sabe é que durante as guerras, homens de confiança dos reis calormanos eram enviados até o arraial do outro soberano e seqüestravam suas esposas e filhas. Estas eram obrigadas a se tornar concubinas do rei. Esse é um gesto de humilhação: se você derruba um rei de seu trono, você mexe com o orgulho real, mas quando sua esposa é arrancada de você, sua honra é levada junto!”

Seus olhos estão arregalados, pois agora você sabe quem são as mulheres que seguem a pé lado a lado com a carruagem real calormana. Seu coração bate junto a sua garganta e você mal consegue respirar.

“ – Eu digo isso, para que você esteja preparada para lutar. Pois um rei de Nárnia não pode preterir uma vida em detrimento de milhares. Mas Caspian jamais sossegaria sem tê-la de volta. Assim, quando o rei calormano cruzar as muralhas, saiba que seu noivo estará frente a frente com o homem que pode tirar-lhe as duas coisas que ele mais ama: Nárnia e você!”

Você engole em seco a ansiedade e a raiva que tomam o controle de seu ser. E se veste para impressionar. Não para que os reis e os súditos a achem bonita. Mas você quer transmitir poder e autoridade, por isso você ignora a ordem de Caspian e não coloca a coroa de princesa, pois esta é delicada e demonstra que a pessoa que a usa é incapaz de se defender.

Ao contrário você põe uma coroa que envolve seu cabelo, como se fosse uma espécie de chapéu, feita de ouro finíssimo. Coroa que você ganhou do povo anão de Nárnia.

Quando você desce as escadas, todos no palácio prendem a respiração e Dr. Cornélio confessa:


“ – Minha princesa, você realmente sabe escolher uma roupa para recepcionar um tirano!”

Até Suzana não consegue parar de admirá-la. A rainha Gentil está usando um vestido vermelho com um decote singelo que em nada revela sua beleza e é exatamente esse o objetivo: chamar a atenção sem ser vulgar. Os ombros da Gentil estão a amostra enquanto os seus estão escondidos pela manga do vestido e pelo manto por cima dele. Ao contrário do que parece, suas vestes são leves e lhe dão mobilidade e agilidade. A partir de agora, você decidiu não mais usar roupas que a impeçam de agir e por isso irá ignorar a moda narniana e incluir em seu guarda-roupa um pouco da moda de seu mundo!

Mesmo Caspian não consegue esconder a surpresa e admiração. Ele, que momentos antes estava sério e tenso, com as mãos tão apertadas que os nós dos dedos estavam brancos sem sangue, está agora boquiaberto. Quando você se aproxima, ele sussurra:



“ – Eu esperava uma princesa, mas na minha frente vejo uma rainha capaz de liderar um exército!”

Você sorri e ele lhe dá um leve beijo nos lábios e a posiciona. Você está nos degraus superiores da escada. Sua posição lhe deixa a direita de Caspian que está dois degraus abaixo com Suzana ao seu lado esquerdo. Antes que a indignação tome conta de você o professor lhe explica:

“ – Não se zangue ou sinta ciúmes. Essa não é a hora. A Gentil está ao lado de Caspian, pois essa é a posição de reis que governam e guerreiam juntos, não de parceiros. Caspian quer mostrar com isso, que caso haja guerra, Balian irá enfrentar dois soberanos para conquistar Nárnia e não somente um. Você está exatamente onde deve. E sua posição não a mostra como noiva e sim como alguém que está acima de uma esposa e também a mostra como guerreira.”

O que Dr. Cornélio quis dizer é que as posições hoje significam graus hierárquicos. Caspian e Suzana estão declarando publicamente que, mesmo que você ainda não seja casada com o Rei, Nárnia está sob seu comando caso aconteça algo a eles. Isso significa que o povo a vê hoje como líder de Nárnia e a partir de agora obedecerá suas ordens como soberana e não mais como a noiva do Rei.

Só depois da explicação do professor é que você olha para a multidão de telmarinos a frente do castelo. Os narnianos não estão presentes na recepeção do calormano, eles serão um elemento surpresa na guerra. Tanto Caspian, quanto Suzana concordaram com seu plano de que somente telmarinos receberiam o rei calromano. O povo narniano permanecerá escondido na floresta até que você os lidere para a guerra.

Os telmarinos a observam com admiração e ar solene, como se todos concordassem com a decisão do Rei Navegador e da Rainha Gentil. E agora, de alguma forma, você sabe que eles confiam em você para liderar Nárnia, mesmo que esta confiança seja só para esse período de guerra.


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Kamila Mendes

























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