Sentei-me para admirar a chuva que caia. Para olhar as gotas
que desciam fortes e estrondosas na terra, abrindo sulcos e fendo o solo
seco. O dia cinza e frio, tão
reconfortante, simbólico e preciso, tão belo em sua solidão.
Sentada eu admirava o que os demais aprenderam a desprezar. Caminhei
lentamente, deixando a água lavar minhas dores e permaneci ali, no meio da rua,
com a chuva descendo pelos cabelos, costas, mãos, pernas e pés. Ali em pé abri
os olhos o quanto pude para admirar a verdadeira força da natureza.
Enquanto o vento uivava assombroso, frio e triste, com a
chuva gelada descendo pelos dedos, pude observar uma figura trêmula. Um pequeno
pássaro, tão lindo, tão frágil, tão molhado... devagar me aproximei, o pequeno
animal estava pousado em um único galho verde de um arvore seca.
Ali admirando a cena, me perdi em mim mesma. Voltei aos anos
verdes de sorrisos e brincadeiras, de gargalhadas e abraços, de beijos e
beliscões nas costelas... mergulhei e me afoguei nas lembranças de tardes
ensolaradas embaladas pelo suave e gelado sabor do sorvete. Me deixei levar
pelas correntezas de lágrimas que desciam pelo rosto.
Um pequeno animal representara tanto para mim. Desejei estar
no lugar dele, ou melhor, lutar lado a lado, como tantas vezes fizera por mim. Mas
mal pude estender as mãos.
Sentei-me e o assisti, firme e resoluto em não abandonar seu
lugar. Assim sou eu, firme e resoluta em jamais abandonar meus amigos, mesmo
diante da dor, mesmo diante da minha dor. Mesmo quando o que mais quero é
permanecer só.
Permenço agarrada ao galho verde da amizade, mesmo quando as
tormentas da vida querem me levar daqui. Me tiram a paz ou o sono... ainda
assim estarei ao seu lado...mesmo que um dia venha a me abandonar, como já
fizeram, ainda assim serei para você como o galho é para o passarinho na
tempestade!
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Kamila Mendes
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