As faixas brancas do asfalto passam em alta velocidade. O
cabelo fustigando o jovem rosto refletido no espelho retrovisor. Atrás apenas o
deserto cortado por uma rodovia vazia. Apenas eu e a velocidade. Alguns
quilômetros me separavam da liberdade.
estou na contramão do mundo e não diminuo a velocidade. Pelo
contrário, piso no acelerador, cantando pneu, fazendo o ponteiro do velocímetro
subir freneticamente. 60 Km, 80 km, 100 Km, 120 Km, 140 Km e é como se já não
existisse velocidade. Voo alto, até onde meus sonhos podem chegar.
profetizei liberdade à minha vida, presa outrora pela
angústia dos dias cinzas, iguais e sem perspectiva. Agora excedo o limite. Voo
para atingir meu lugar no espaço. Quero imortalizar esse momento. Cantarolo uns
versos que darão origem a um cântico de liberdade.
Mais tarde, passarei o ombro pela alça do violão e
dedilharei minhas conquistas em versos e notas suaves e agressivas. O futuro
está ao alcance de um dedo.
Cansado da prisão do mundo. Das barreiras criadas por tolos
estereótipos, fujo para algum lugar, ou lugar nenhum, onde possa ser eu mesmo.
Onde possa pensar meus pensamentos e não ditaduras impostas por uma sociedade
vazia e sem alma.
Voo longe, queimando pneu. Coço a barba rasteira que deixei
crescer. Meu primeiro grito de liberdade. Abandonei o terno, a gravata, o
escritório fechado, com vista para uma selva de pedras. Agarrei o volante do
carro, soltei o cabelo rebelde. Coloquei o som nas alturas, com minha jaqueta
de couro e coturnos pretos, dirijo para o meu futuro. Para a conquista do meu
eu.
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Kamila Mendes
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