quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um Pequeno Conto (parte IV)

A festa é hoje e você está se arrumando! Cada gesto que faz parece demorar um século e nada parece estar no lugar, incluindo você! O dia foi cheio de preparativos e a semana foi um tanto cansativa. Todos os exercícios e as lições abordavam o bom comportamento na corte e para você isso queria dizer que era um esforço desesperado de seus tutores lhe deixarem apresentável para esse dia e você prometeu a si mesma que, acontecesse o que fosse não iria decepcionar Caspian. Acontece que a cada passo que dá você se sente observada e a cada dia você pensa que pode estar à beira de uma esquizofrenia!
As comparações continuam e o beijo do Rei parece tão distante como se tivesse sido levado pelo vento. Depois daquela tarde, foram poucas as vezes que estiveram juntos e nelas ele agiu como se nada tivesse acontecido. “ – É essa festa idiota. Ela tem roubado todo o tempo dele. Tenho certeza que se não fosse ela nós já teríamos conversado sobre o assunto”. Mas esses pensamentos são só uma desculpa para a sensação que assola seu coração: Você sente como se ele não se importasse ou se envergonhasse de você. Caça-Trufas costuma dizer que é muita coisa para um Caspian só resolver, que você não se preocupe, pois não tem nada haver com sua pessoa.

A noite do baile está tão próxima, as hora voam e você já não tem mais o controle das mãos, seu estômago está se contorcendo lhe deixando com um gosto amargo de bile na boca e agora só pede para que esse dia acabe logo sem nenhum desastre causado por você. “ – Você vai acabar fazendo um buraco no chão ,princesa!”, avisa Caça-Trufas “ – Ai texugo, com o perdão da expressão, me deixa em paz! Eu não vou conseguir, são tantas regras de etiqueta a seguir, tantos nomes pra decorar. Você tem noção que não tem mais pele em meu braço que não esteja rabiscada com dicas de etiqueta?!

“ – Minha senhora é tão espirituosa”

“ – Não é brincadeira, Texugo. Olhe!” e você mostra os braços cobertos de dicas de etiqueta e mesuras, juntamente com o nome dos grandes senhores que confirmaram a presença na festa! Ao olhar o braço mais uma vez, você mesma se surpreende com a capacidade de torção muscular que os anos, e lógico as tentativas falhas de colar nas provas, lhe deram! Até seu gato olha assustado!

“ – Mas minha princesa para quê tudo isso? Você está além do termo 'preparada'! Eu mesmo me certifiquei de que nada dê errado hoje!”

“ – Você não conhece minha sorte Caça-trufas, é capaz de um meteoro cair no meio do salão só porque estarei ali!”

Antes que Caça-Trufas pudesse parar de rir e responder, alguém bate na porta. Você responde que não quer visitas e uma voz educada e um tanto alegre, com um tom de zombaria, responde: 

“ – Mesmo que quem esteja batendo seja o seu Rei?!”, Caspian indaga.

“AI, MEU DEUS!” você pensa e avalia o seu estado no espelho e, francamente, a única palavra que a define é lamentável: seus cabelos parecem um ninho de passarinho, resultado da sua falta de boa vontade com a cabeleireira e de tantas vezes que você passou a mão por eles demonstrando nervosismo. Seus olhos estão vermelhos e inchados da noite em claro e das lágrimas cheias de dúvidas que você derramou a noite e, francamente, que roupa é essa? Ainda de pijama? O que aconteceu com as camisolas de seda e algodão que o alfaiate do rei fez para você?!

Envergonhada, você faz a única coisa ao seu alcance, voa através do quarto e se enfia no primeiro roupão que vê a sua frente. Enrola os cabelos na toalha e molha o rosto com um pouco de água e abre a porta. Com um olhar afiado e curioso Caspian avalia você e pergunta: “ – Você estava no banho?”

“ – Sim!”

“ – De meias? Francamente, você já está aqui há mais de um mês e ainda acha que pode me esconder alguma coisa? O que houve princesa?”

Com um suspiro profundo você desenrola a toalha dos cabelos e deixa essa massa disforme cair sobre os ombros, enxuga o rosto e se joga na cama, sentada de pernas cruzadas, e desabafa:

“ – Esse é o estado da sua princesa hoje: deplorável. Olha! Mais uma lição aprendida nessa semana, uma palavra nova: Deplorável! Agora, Caspian, o que o traz aqui? Faz alguns dias que você se quer olha em meus olhos, meu Rei? Contaram alguma coisa que devo ter feito de errado a você? Por que não posso imaginar outro motivo para sua visita”

“ – Texugo o que significa tudo isso? Por que ela está desse jeito, tão amarga?”

“ – Bem, meu senhor, a única explicação que tenho chama-se nervosismo e angústia. Vossa princesa está nervosa com a festa de hoje e imagina que o Senhor já não tenha mais interesse nela!”

“ – Caspian, isso não é verdade... Texugo linguarudo! Meu senhor, deixe eu explicar...”

“ – Caça-Trufas, você pode nos dá licença, nos deixar a sós para conversar?”. Com essa deixa, texugo deixa o quarto e fecha a porta lhe desejando bem baixinho boa sorte e você pensa: ‘ Texugo traíra, ainda bem que meu cachorro não falava, imagina só o que ele contaria a minha mãe?!”

Durante um tempo aquele silêncio tão incomodo se instala entre vocês. Caspian passeia pelo quarto e observa sua decoração! Segura e analisa uma foto sua e de sua mãe, coloca a mesma foto no lugar, volta a sua cama e senta de pernas estendidas, e observa você. O olhar divertido se torna curioso e, a medida que você sustenta esse olhar, uma espécie de orgulho mau contido o atravessa se misturando com um carinho que não existia ali há uma semana atrás.

“ – Ah, minha princesa, eu sei que tenho lhe deixado muito tempo só e também sei que isso lhe perturba! Mas veja só, não posso dispensar todo tempo que tenho com você! Tenho um reino para cuidar, assuntos para resolver. Hoje mesmo tive que decidir uma briga entre dois fazendeiro que disputavam 15 centímetros de terreno. Eu sei, para absurdo, mas acontece. Eles alegaram que a cerca de um estava quinze centímetros dentro do território do outro. Então, você vê? Tenho que tomar conta de tudo, mas reconheço que tenho lhe deixado de lado e vim lhe pedir perdão”.

Você permanece em silêncio, em parte por não saber o que dizer, em parte por não ter o que dizer. Seus sentimentos estão tão confusos que você apenas o observa e só então, quando ele estende a mão e enxuga uma lágrima do seu rosto, é que você percebe que seus olhos estão dizendo aquilo que seu coração está gritando, mas sua boca não consegue dizer!

Então, o rei estende a mão e acaricia seu rosto. Você estremece, pois sabe que a única coisa que a acalmaria seria um abraço, mas não tem coragem pedir isso a ele. Você está com o orgulho ferido, tem saudades de casa e precisa de alguém que possa escutar você. Está tudo saindo tão diferente do que você imaginou.

“ – Você não precisa ter medo de nada, minha princesa. Eu estarei lá com você! Pro favor, não chore mais. O que você quer que eu faça? Me diga.”

Entre soluços você declara aquilo que você já decidiu a muito tempo e que apenas vinha adiando:

“ – Caspian, eu desisto. Isso não é para mim. É coisa de mais pra aprender e eu sou muito turrona. Nunca vou me acostumar com o fato de ter que obedecer ordens, horários. Estou de pijama, porque amo ficar assim. Isso é confortável! Eu não vou conseguir hoje, está bem? É melhor não dá continuação a essa festa, ou então mude o tema. É isso. Faça uma festa em comemoração da colheita que foi boa, mas não uma para mim. Eu detesto ser o centro das atenções e não sou tão corajosa quanto pareço!”

“ – Se você pudesse ver o que eu vejo em você, nunca diria isso. Você tem tudo para ser uma rainha e sua teimosia deixa essa questão mais clara. Uma rainha que abaixe a cabeça para tudo e todos não é o que eu quero. Sua insatisfação me mostra que você não ficará quieta diante de uma injustiça. E se você soubesse o quanto eu amo esse olhar obstinado e...”

Você esquece as lágrimas e nem se quer ouve mais o que ele está dizendo, porque nesse exato momento sua mente está trabalhando em uma única questão “ – Espera um minuto. Ele disse que ama? O que exatamente isso significa? Até que ponto vai esse amor?”

“ – Caspian, o que você quer dizer com isso? Eu... eu estou um pouco confusa agora”

“ – Meu Deus, a única parte que não gosto é o quanto você se recusa a entender uma situação eu estou tentando dizer que a cada dia começo a amar você um pouco mais, mas parece que você empaca sempre. Sempre tem que ter algo mais, pare de procurar significado onde não existe!”

Indignada, você levanta de um salto da cama e com os punhos cerrados fala, entre dentes: “ – Epa, você disse que empaco? Eu sou uma mula agora é isso?”

“ – Vê? É disso que estou falando. Acabo de declarar que te amo e você se pergunta, aliás me acusa de tê-la chamado de mula. O que há de errado com você?” E antes que você perceba, ele está beijando você de novo. Assim que se afasta ele acaricia o ninho de rato que hoje você chama de cabelo e diz: “ – Pare de insistir em algo que não existe, tudo bem? Só por um momento finja que não um esquema de perseguição a você todo armado em sua mente! Eu estou aqui, bem aqui, acariciando os cabelos emaranhados da mulher que escolhi para passar o resto da vida. Então, usando uma expressão do seu povo, dá um tempo!”

Essa é a oportunidade que você esperava. Você se joga contra ele e o abraça forte, descontando todas essas semanas de carência nesse abraço. Vocês permanecem abraçados por um tempo e então ele finalmente revela o motivo da sua visita:

“ – Hoje a noite eu irei apresetá-la como minha noiva. Até então, os grandes senhores desta terra apenas sabem que você é uma pretendente. Mas hoje a noite isso irá mudar! Quero você traquila e relaxada, porque aconteça o que acontecer eu serei seu rei!”

Se é que havia se estabelecido algum tipo de tranqüilidade em você, essa escorreu junto com toda sua coragem para o chão do quarto e engatinhou direto para debaixo da cama!

A noite chegou e, juntamente com as estrelas, ela trouxe o baile...

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1 comentários:

Roberta Ribas disse...

Que lindo Kami, cada vez me interesso mais por essa guria teimosa (que me lembra certo alguém...kkkkk), publica mais...