Um suspiro longo tira a disposição do seu rei e o
olhar dele se perde em meio a multidão de dançarinos e quando ele começa a
falar sua voz é uma mistura de dor, dúvida e hesitação.
“– Não quero que você pense que fui responsável por
isso! Eu não pedi, nem procurei. Tão pouco tenho motivos para ter de me
explicar. Mas, de alguma forma, os
antigos reis souberam e dizem as más línguas que eles virão ao baile. Mas até
agora não há razão para acreditar que eles tenham voltado a Nárnia. Talvez seja
só um blefe daqueles que não aprovam meu casamento com uma mulher que não seja
narniana!”
E como se estivesse esperando apenas uma deixa, ela
adentra o baile. Vestida em um vestido verde de seda, os cabelos presos em um
coque. Se antes você já considerava frágil a pouca liderança que surgia em
você, com a presença dela toda autoridade em você correu com medo!
Então, como se não pudesse evitar você comenta
baixinho: “– Ela é realmente linda!”, e com essa constatação você se encolhe e
tentar ir embora, mas mão de Caspian a mantém presa ao chão e só então você tem
coragem de levantar os olhos e olhar para seu rosto: ele está olhando fixamente
para ela e você não consegue decifrar o que significa aquele olhar. Uma onda de
ciúmes invade seu peito e as lágrimas lutam para sair e você se sente
impotente, como se fosse uma lebre diante de um predador maior em beleza e
força!
“– Então era isso que o texugo tentou me dizer todo
esse tempo!”, antes que alguém a levasse dali, você reúne a pouca dignidade que
ainda resta, bebe um longo gole de champangne de uma taça que o garçom acabou
de trazer, solta a mão de Caspian vai em direção a ela e, quando finalmente ela
lhe dá atenção, você se curva diante dela e se apresenta:
“– Rainha Suzana, é uma honra está diante de vossa
presença. Sou a princesa dos Vales do Leste, obrigada por ter vindo ao baile!”,
você se mantém curvada e somente quando ela lhe dá a ordem para que levante é
que você olha em seus olhos e pensa “Bem, esse azul pode realmente afogar um
homem!”.
Com um gesto de mão ela a cumprimenta e fala
gentilmente “– É um prazer conhecê-la, Princesa dos Vales do Leste, levante-se!”
e segue em direção a Caspian que também se curva diante dela e ela lhe retribui
a mesura. Durante um tempo, realmente incomodo para você, eles se mantém
olhando um para o outro. Suzana ri e se volta a você e fala com um tom
desinteressado:
“– Então, essa é a futura rainha de Nárnia? Ela
muito bonita! Onde você a encontrou Caspian?”
“– Em seu mundo, vossa graça!”. Com uma pontada no
coração você percebe que esse tratamento é dado a qualquer mulher com título
nobre e não somente a você.
“– Em meu mundo? Isso é no mínimo curioso, mas por
que lá? Existem tantas mulheres dignas de um trono aqui mesmo em Nárnia? O que
tem de especial no meu mundo?”. De repente você percebe que, de alguma forma
Caspian também se sente submisso a ela.
“– Porque, minha rainha, seu mundo gera as rainhas
mais poderosas da história de Nárnia. É só olhar para o passado e podemos ver a
Rainha Helena, vossa majestade e vossa irmã, a rainha Lucy. E eu preciso e
quero uma rainha forte, capaz de governar em minha ausência e capaz de ser tão terna
e carinhosa quanto uma mulher possa ser. E eu a encontrei”.
Seu coração para pelo tempo de uma batida ao
perceber que ele se refere a você, um sorriso atravessa seu rosto, mas ele não
elimina o ciúme que cresce em seu peito!
A Rainha Suzana vira em sua direção e com um
interesse legítimo fala: “– Espero que você esteja gostando de Nárnia, por
experiência própria sei que a adaptação é um tanto quanto difícil!”
“– Sim Mi Lady, estou gostando de Nárnia e começo a
me sentir em casa nesta terra! Obrigada por perguntar”. E então o Sr. Texugo
vem em sua direção segurando um ramalhete de flores e você sorri ao pensar que
somente seu melhor amigo em Nárnia lhe daria um presente como esse na hora em
que você mais precisa, mas de repente, Caça-Trufas desvia seu caminho estende o
buquê em direção a Rainha e fala:
“ – Minha senhora, este é um singelo presente
de seu povo, de todos nós narnianos que um dia lutamos ao seu lado e que
aprendemos a amar Vossa graça.”
No lugar do seu coração agora existe um buraco
vazio e frio. Você olha desconcertada para o Texugo e ele se ajoelha perante a
rainha e todos no salão seguem o exemplo de Caça-Trufas. Novamente, você se
sente com um nó na garganta e descobre que esse povo que você já ama tanto
nunca será seu povo. Eles nunca lhe amarão como a amam e nunca você terá algum
tipo de autoridade com eles. E seu rei, esse homem que você sempre viu tão
seguro de si, tão cheio de poder e autoridade também estremece diante Dela. Então,
como se fosse uma revelação, você percebe que: “Ele pode gostar de mim e me
admirar em algum sentido deturpado, mas nunca vai me amar”.
O nó na garganta aumenta até que você sente uma
necessidade absurda de sair para o jardim e respirar ar puro. “Ela é tão linda,
tão poderosa. Nunca vou competir com ela e pior nem espaço para odiá-la há em
meu coração. Porque como se pode odiar uma criatura tão doce e gentil? Sinto-me
como aquelas adolescentes de filmes americanos que querem morrer ao perder o
namorado.” Suspirando, seu semblante cai ao pensar: “-A diferença é que não
posso perder o que nunca foi meu!”
Sentada escondida no
escuro, você chora lágrimas de uma dor desconhecida! Lágrimas por perder algo
que já considerava seu. Lágrimas por ter acreditado que Nárnia também era um
lugar para você! Seu conto de fadas pode ter sido somente uma ilusão. Ela
voltou e está lá de pé e todos a rodeiam. Ela encontra tempo e palavras
carinhosas para agradar e atender a todos.
Você olha para as estrela e lembra-se de alguém que
nunca lhe abandonou, mas o qual você nunca se lembrou e suas lágrimas descem
como rios pelo seu rosto e você pede, baixinho e silenciosamente, para que
apenas ele ouça:
“– Aslan se você pode falar comigo, por favor, me
explica o que está acontecendo. Se não era para eu estar aqui me fale, por
favor. Basta uma palavra sua e eu dou um jeito de voltar para minha vida
antiga. E esta dor, o que é isso? Aslan, faça isso passar, faça essa dor ir
embora, porque eu não suporto mais!” E então, como se uma onda devastadora
rompesse uma barragem, toda as lágrimas que você tentou segurar durante tanto tempo
deságuam pelo seu rosto.
As horas passam e ninguém percebe a sua ausência.
Seus olhos estão inchados, e você não tem mais lágrimas para derramar. A
maquiagem já escorreu junto com qualquer tipo de sentimento e agora só restam
um rosto manchado de lágrimas e uma sensação de anestesia. Mas ainda lhe faltam
forças para levantar. Ainda sentada no escuro, mais uma vez você olha para o
céu e indaga “- Aslan, você pode me ouvir?”
Um vento suave sopra à medida que uma presença
cresce ao seu redor. É algo tão forte e poderoso que você não consegue
descrever. Você fecha os olhos e é como se eles não estivessem fechados, é como
se você tivesse sido levada para outro mundo e quando os abre você ainda está
no jardim. Sua intuição lhe diz para continuar de olhos fechados, e você
obedece!
Uma sensação de conforto e paz lhe envolve. Seu
coração dispara e uma alegria incomum enche seu peito e invade seu coração,
transbordando em lágrimas. E então você o ouve.
“– Eu nunca deixei de te ouvir, minha filha!”
Ali, diante do Grande Leão, todos os medos vão
embora. Você o olha e sente vontade de abraçá-lo. E Ele então sorrir e com um
aceno de cabeça convida-a a realizar esse desejo. Você levanta e vai até Ele,
cai de joelhos na frente dele e se joga em um abraço. Você deixa com que a juba
do Grande Rei roce o seu rosto e a gargalhada profunda de satisfação Dele a
envolva. E agora já não há mais medo, nem dor, nem insegurança ou raiva.
“– Eu realmente amo quando meus filhos, meus
queridos se aproximam de mim. E você minha querida, nunca foi esquecida!”
“– Mas, meu Senhor, se eu nunca fui esquecida o que
é isso tudo. Já não tenho certeza de estar no lugar certo. Na verdade nunca
tive!”, você desabafa.
“– Quando se tem a certeza absoluta de algo é
porque já não há mais nada a aprender. Pense nisso: Seguidores vivem pelo que
vêem. Lideres vivem pelo que crêem. E eu pergunto: em quem você crê minha
querida? Em mim ou em um poder humano que se esvai com a morte? Vamos levante,
enxugue esse rosto. Essa festa é para você. Ou você realmente pensa que eu
nunca iria festejar a nova filha de Eva a sentar em um trono de Nárnia?”
“Você vai à festa comigo?”
“– Não. Mas eu posso levá-la até a entrada. Algumas
vezes basta que eu me manifeste a você e só a você. Mas isso não significa que
eu não estarei lá. Afinal, quem você acha que inspirou Caspian a dar esse
baile? O anfitrião da festa sempre está por perto, por mais que você não possa
vê-lo. Enxugue as lágrimas e vamos. Você já passou tempo de mais sozinha!”
E então você abriu os olhos e não era sua
imaginação, pois Aslan está ali diante de você e você está agarrada ao pelo de
sua juba. Você se levanta. Limpa as folhas de seu vestido e olha para o Leão,
que deu a vida por você e diz:
“– Obrigada por ter estado comigo. Agora eu entendo
que mesmo enquanto não podia vê-lo, você estava aqui andando comigo nos
momentos mais importantes, enxugando minhas lágrimas!”
“– Isso, minha filha. Mas ainda há mais a aprender.
Essa não é sua única lição! Levante a cabeça, encha o peito com segurança, pois
Eu sou contigo!”
E por Ele ter mandado, você o faz. Segue em direção
a porta de entrada do baile, depois de tê-lo visto desaparecer entre as
arvores, segura de uma simples verdade: por mais que seus amigos a abandonem,
Ele nunca a abandonará!
Quando chega a porta de vidro que dá vista ao
jardim, Caspian está lá esperando por você. Uma surpresa atravessa o rosto do
rei, quando de dentre as arvores um rugido baixo se faz ouvir e uma voz
profunda, mas suave indaga:
“ – Caspian, o que você está fazendo, já não
é hora de esquecer o passado?”
E quando você se vira
para as arvores tem a exata noção do o rei está vendo: Aslan está sentado sobre
as patas traseira olhando fixamente para o rosto de Caspian X até que este
abaixe os olhos. Com um aceno de cabeça, o Grande Leão se despede de você deixando a certeza de que essa não foi a
primeira nem a última vez que vocês estiveram juntos!
Quando se vira para Caspian, o rosto dele é uma
mascara de constrangimento e preocupação
genuína e percebe alívio quando ele afinal a enxerga por entre as árvores.
“– Por onde você andou? Como você é capaz de sumir?
Você tem noção do medo que eu tive?” Por fim, depois que as perguntas cessam,
ele assume baixinho, mas olhando em seus olhos: “ – Me perdoe princesa, eu fui
um tolo,”
Uma coragem que nunca havia tido enche todo o seu
ser. Você toma a mão do Rei e o puxa para um abraço e diz pacificamente “–
Estive com meu Senhor e não se preocupe, não vou deixar o que conquistei com
tanto esforço escorrer por entre meus dedos! Vamos entrar.”
Impressionado com sua atitude, Caspian a observa
boquiaberto: “– O que aconteceu?”
“– Nada. Só que sei que essa festa é para mim e não
vou deixar que minha alegria acabe porque as coisas não saíram do meu jeito.
Vamos temos uma rainha como convidada e eu não quero decepcionar meu Senhor!”
Assim que você entra novamente no baile,
Caça-Trufas vem ao seu encontro e pede perdão por não ter lhe contado nada. “–
Tudo bem. Mas que isso não se repita. Se vou de fato ser sua rainha, espero o
mínimo de respeito daquele que considerei meu melhor amigo!” e você continua
andando em direção da rainha Suzana. Seu peito ainda arde de ciúme, mas já não
é uma dor insuportável e devastadora. Com um arroubo de coragem, você decide
colocar em prática aquela tão famosa frase: “– Já que não pode vencê-la, junte-se
a ela” e a sua mais nova missão é descobrir porque Suzana está em Nárnia outra
vez!
Continua...
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Kamila Mendes
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