Passei esse final de semana lendo Jogos Vorazes, de Suzanne Collins. Tenho de admitir: sou o tipo de leitora que só se empolga com um “arrasa quarteirão” depois de receber muitos spoillers e, no caso de livros que viram filmes, depois de assistir o filme. Então, confesso que, enquantos muitos enlouqueciam com posts variados no tumblr, facebook e twitter, eu me continha a espera de minha própria avaliação. Claro que, quando houve a estréia no cinema, o bichinho da ansiedade finalmente me mordeu.
Então, como não queria cometer o erro que cometi algumas vezes, comprando coelho por lebre, entenda-se comprando livro pelo respectivofilme, decidi pedir emprestado. Comecei a lê-lo na segunda-feira passada e chorei de quebra ao longo dos cinco primeiros capítulos. Tudo bem, eu admito, sou muito emotiva também, me vi na pele de Katniss por diversas vezes e resolvi parar.
Só consegui ter coragem de continuar e enfrentar o conjunto de emoções que temia no sabado, antes do almoço. E só parei de ler no domingo às 19h30 e ainda não sei descrever o conjunto de emoções que vivi! Bom, dito isto, vamos a resenha!
A obra de Suzanne Collins é o que hoje chamamos de distopia. Ambituado em uma nação pós apocaliptica, Jogos Vorazes conta a luta pela sobrevivência de Katniss Everdeen.
Panem e seus 12 distritos formam a nação que agora ocupa o local outrora conhecido como América do Norte. Todos os anos são realizados os Jogos Vorazes, no qual um casal de cada distrito, entre 12 e 18 anos, é sorteado para lutar na arena até que reste apenas um vivo. O vencedor recebe glória e riqueza ilimitada, apenas uma forma da Capital lembrar aos moradores que é ela quem detém o poder e quem obedece permanece vivo e debaixo de sua proteção.
Os Jogos são uma lembrança do que acontece quando se mexe com a supremacia da Capital. Há 75 anos, os distritos se rebelaram contra a força da Capital, resultando no desenvolvimento de armas de espionagem, na extinção do Distrito 13 e na criação dos Jogos Vorazes.
Nossa heroína se chama Katniss Everdeen, tem 16 anos e chefia a familia desde a morte de seu pai, quado sua mãe entrou em estado de tristeza profunda. Katniss sustenta a familia com o dinheiro da venda de animais caçados ilegalmente – ela e seu amigo Gale assumiram a missão de provedores de suas familias!
Toda Panem se prepara para receber a 74° edição dos Jogos Vorazes. Tanto Katniss quanto Gale estão apreensivos, pois seus nomes contam uma porção de vezes na urna, mas a protagonista está tranquila, pois pelo menos as probabilidades estão a favor de Primrose, sua irmã caçula.
É quando o nome de Prim é retirado da urna como tributo (como são nomeados os sorteados), que a ação começa. Katniss se voluntaria no lugar da irmã e Peetah Mellark é escolhido como tributo masculino.
“Levar as crianças de nossos distritos, força-las a se matar umas às outras enquanto todos nós assistimos pela televisão. Essa é a maneira encontrada pela Capital de nos lembrar de como estamos totalmente subjugados a ela. (...) A mensagem é bem clara: “Vejam como levamos suas crianças e as sacrificamos, e não há nada que vocês possam fazer a respeito...”
Os Jogos são uma forma de agradar aos moradores da Capital lembrar e lembrar aos distritos o que acontece com quem se rebela e questiona seu ‘poder’. O propósito dos Jogos é lembrar aos distritos que eles são fracos e dependem da Capital e trabalham por e para ela.
Aqui encontramos também a famosa política do pão e circo: os moradores da Capital e dos Distritos 1 e 2 aguardam ansiosos pelos jogos, enquanto os demais distritos enviam penosamente seus jovens a morte. Tem forma mais intimidadora de mostrar poder do que matar seus filhos e filhas sem que você possa fazer nada para evitar e com uma multidão aplaudindo a carnificina e apostando no vencedor? Acho que não.
Jogos Vorazes é uma obra distópica das mais geniais. Aprendi a apreciar esse gênero desde que li Feios, de Scott Westerfeld, o qual já resenhei. A narrativa, realizada em primeira pessoa e no presente, prende o leitor na pele de Katniss e o leva para passear em meio as duvidas e incertezas da personagem ao mesmo tempo em que luta para sobreviver!
Uma narrativa intensa, que prende a atenção e faz com que o leitor prenda a respiração em cada viada de página! São personagens cativantes em suas variadas formas. Mesmo aqueles desenhados para serem vilões acabam encantado pela complexa rede de acontecimentos que o envolvem. Cato é um deles.
Criado como carreirista do Distrito 2, Cato deveria ser um vilão e, ao meu ver é ele quem amarra história na arena até o fim. É a presença de Cato que une Katniss e Peeta e que leva a protagonista a agir de forma mais instintiva ao mesmo tempo que luta para se manter fora da luta. Mesmo Effye, que em um primeiro momento aparenta ser fútil e vazia, se revela forte e com uma postura definida sobre a Capital, mas ela também sabe dos riscos que corre ao se opor a essa força esmagadora.
A crítica a social também está ali, estampada para quem quiser analisar. Apesar de Panem existe em um futuro apocalíptico ela se parece demais com nossa sociedade. Maipulados através dos jogos, os cidadãos da Capital vivem em função de satisfação pessoal.
“Como deve ser, imagino, viver num mundo onde a comida surge com um apertar de botões? (...) O que eles fazem o dia inteiro, essa gente da Capital, além de decorar os próprios corpos e esperar cada novo suprimento de tributos que vão morrer para garantir a diversão deles?”
Uma sociedade edonista que ignora a realidade de miséria de grande parte dos distritos, principalmente o 12, onde as pessoas morrem de fome, em função de sua diversão e prazer. Se divertem assistindo aos Jogos e não se importam com o peso esmagador jogado sobre os ombros do resto de Panem.
Alguma semelhança com nossa sociedade, onde muitos passam horas na frente da TV discutindo sobre as brigas e fuxicos da Fazendo, ou quem pegou quem no Big Brother, enquanto os políticos roubam e pressionam ainda mais a parcela probre da população com leis absurdas, juros e impostos altissimos? Onde a saúde é para os poucos ricos e os muitos pobres definham nas filas do SUS? Acho que tem tudo haver.
Não é somente o fator crítica social que faz de Jogos Vorazes um diferencial no genero literatura juvenil. É também a narrativa ao estilo Reality Show, bem como a força de sua personagem principal. Katniss não é uma mocinha fragil em apuros, pelo contrário ela decide o destino dela. É forte e determinada o suficiente para jogar com a Capital, com a ajuda de Haymitch, tributo do Distrito 12 que venceu os Jogos. Perspicaz ao ponto de atuar da forma como o público espera.
Meu lado romântico e sonhador me obriga a falar sobre Peeta Mellark, tributo masculino do Distrito12. Ele é simplesmente perfeito ao se manter fiel ao que ele é, sem se deixar manipular pela Capital e se mantendo fiel aos seus princípios. Com muita gentileza e com um jeitinho peculiar, Peeta ganha seu coração.
Só que posso dizer é que Jogos Vorazes me deixou em choque. Quando terminei o livro, permaneci um tempo quieta, apenas refletindo sobre o que li. De fato um livro eletrizante, com doses certas de amor, aventura, crítica, dor e com uma certa pitada de humor. Se você gosta de ser desafiado, leia Jogos Vorazes. Vale muito a pena.
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