"- Dizem que o medo da coisa aumenta a influência dela sobre nós. Talvez seja isso que aconteça comigo toda vez que me olho no espelho e lembro-me dos sussurros nos corredores do castelo. Sinto medo e um frio na barriga, começo a tremer. Talvez seja ciúme, mas o medo de sua presença constante nas lembranças do povo me assusta!”. Esse é o pensamento que atravessa sua mente enquanto você segue em direção ao seu primeiro baile real. Caspian teve a idéia de apresentá-la aos seus servos mais importantes e aos senhores das terras que constituem seu reino e para isso, segundo ele, nada melhor que um baile.
Desde o dia que ele lhe revelou a vontade de apresentá-la aos senhores de Telmar e Nárnia um calafrio corre em sua espinha. A lembrança da Rainha Suzana ainda está na memória deles e não foi apenas uma vez que você ouviu sussurros nos corredores por onde passa comparando-a com a antiga rainha de Nárnia. Já perdeu a conta de quantas vezes tentou desistir de tudo e no dia seguinte permaneceu no mesmo lugar.
Caspian insiste em todos os dias lhe ensinar algo como reverência e mesura na hora certa, como governar e tomar decisões em seu lugar quando ele não estiver. Seus momentos com ele já não são tão agradáveis quanto antes e é comum você ser um pouco teimosa: “- Caspian, meu rei, chega de repetições, minha cabeça já está cheia de tanta coisa para aprender. Você esquece que não nasci em Nárnia, que não tenho berço real ou que o próprio Aslan não me escolheu. Você também costuma esquecer que essa garota teimosa como uma mula, como às vezes vossa majestade se refere a mim, foi escolhida por você, meu senhor e não por outra pessoa! Me desculpe, mas talvez sua festa de casamento esteja mais longe do que imagina se estiver contando que algum dia eu possa ser melhor do que...” foi com essa pausa na frase que você deu início a última discussão de vocês.
“- Minha princesa, bem sei que fui eu que a escolhi e também sei que não nasceste pronta. Mas um pouco mais de afinco não lhe faria mal! Por hoje concordo que chega, suas reclamações geram um certo desconforto entre nós e com certeza não é assim que quero iniciar um relacionamento e sim, às vezes vc consegue ser teimosa como uma mula, mas essa não foi a única comparação que você fez. Quem é a pessoa a qual você disse que nunca irá superar?”
Se sentindo constrangida com a repreensão e um pouco culpada também você abaixa o tom de voz e responde “- Eu não disse quem era, majestade!”. Com um olhar severo que você ainda desconhecia ele pergunta em um tom áspero “- Mas você vai dizer?!”
“- Não, my lord, minha teimosia, comparável a de uma mula, já lhe deixou chateado de mais. Não quero mais ser motivo de aborrecimento. Se me permitir gostaria de voltar aos aposentos e me preparar para o jantar. Estou suada e com certeza não é assim que uma rainha se apresenta em uma mesa”
“- Acontece que já estou chateado e aborrecido e não pretendo mais prolongar esse assunto. Não é a primeira vez que você faz sugestões e as deixa no ar. Me conte, eu quero saber!”
Exasperada você pensa que dessa vez foi longe demais e responde: “- Caspian, são só fofocas palacianas, nada com o qual você deva se preocupar.”
“Acontece, minha princesa, que já estou farto de indiretas e, caso você não perceba, o que lhe aborrece me atinge também. Ou você acha que não percebi a tristeza que vem lhe abatendo há quase duas semanas e isso tem interferido nos suas aplicação aos estudos, em seu empenho de conhecer melhor Nárnia e tem interferido em nosso já tão tênue relacionamento. Me conte, pois não quero mais ter que me deitar a noite preocupado com o que pode estar perturbando você, ou que você se arrependeu de ter vindo comigo!”.
Surpresa com a linha de raciocínio dele você se defende, afinal como ele pode achar que o motivo do seu mau humor é a escolha que você fez se tudo o que você mais aprecia está diante de você com um olhar que mistura raiva, rancor, impaciência e algo como mágoa. “- É isso? Ele está magoado? Não pode ser.”
“- Caspian, não. Não é você! Tão pouco me arrependo da escolha que fiz. É que...bom... desde que você, meu rei, me apresentou como sua futura noiva..."
“- Você já é minha noiva”, corrigiu ele. “- Por favor, continue”.
Com um suspiro longo e profundo, você continua:
“ – É que... droga..não sei como dizer...(suspira de novo)... bom, tenho ouvido sussurros, boatos e tudo mais que tem haver com mexericos afirmando que você nunca esqueceu a rainha Suzana. Caspian, como eu, uma garota que não sabe nem combinar os sapatos com os vestidos ou como empunhar uma adaga, ou simplesmente com qual garfo se come peixe, posso competir com ela! Eu me sinto uma erva daninha comparada com uma grande, sedosa e frondosa rosa vermelha. E mesmo que você argumente que nem sempre ela foi rainha, que ela também teve que aprender, você não pode ignorar o fato de que o próprio Aslan a escolheu, pode? Por vezes me sinto com um gatinho recém nascido, perdido, que não sabe o que fazer em meio a enormes e assustadores humanos. Talvez, só talvez, você tenha se enganado ao me escolher. Eu não sou graciosa, não sou delicada e sinto uma falta tremenda de usar calças jeans. O que, diabos, os narnianos tem contra uma mulher usando calças? seria tão mais confortável para andar a cavalo do que esse espartilho e essas anáguas!”
E com um tremor na voz, com a garganta apertada e uma lágrima idiota que teimou em rolar por sua bochecha, você acrescenta: “- Me perdoa, Caspian, mas eu não mereço ser rainha de Nárnia e claro, sua esposa”.
O silêncio que ele faz é tão longo que você começa a imaginar que você falou por tanto tempo que ele dormiu em pé de olho aberto, ou pior, o discurso foi tão longo que deu tempo de alguém trazer a Feiticeira Branca de volta e ela ter passado por ali e transformado o Rei Caspian em uma bela estátua de gelo.
Quando ele finalmente se move, você rapidamente abaixa a mão que estava prestes a tocar seu rosto para saber se ele ainda estava quente ou acordado. Com um suspiro talvez tão longo quanto o seus, ele olha fundo nos seus olhos e responde, com misto de divertimento, indignação e traição na voz: “- De fato, você nunca será como ela”. Essas palavras foram pior do que se ele tivesse lhe dado um tapa. Você se desequilibra e abaixa a cabeça para que ele não perceba as lágrimas que começam a cair e pensa em sair correndo e arrumar as malas para voltar para o colo de sua mãe quando ele recomeça a falar.
“ – Minha linda, a diferença entre você e Suzana é tão profunda que não há como negar que ela exista...” Ele levanta a mão para silenciar você, pois já tinha começado a protestar, quando ele percebe as lágrimas no seu rosto. Com um dedo ele limpa a lágrima que está dependurada em seu queixo a olha por um tempo e pede perdão.
“ – Pensei tanto para começar do jeito errado. Com isso não quero dizer que você é inferior a ela, apenas que vocês são diferentes. Entenda ela veio de um outro tempo, de uma outra era e não está mais aqui. Da mesma forma que apreciava a delicadeza de Suzana, aprecio a sua teimosia, de fato, ser teimosa é uma boa característica para uma governante. E esse gatinho que você diz ser tem um potencial imenso para virar uma leoa. Sei que tenho sido severo com você, mas não errei em te escolher. Sei o que vi, sei do que e de quem gostei e quanto a escolha pessoal de Aslan, não sou ele e nem pretendo me comparar a ele, mas um dia o Grande Leão me disse que por não me sentir pronto para governar é que seria um bom rei. Com isso entendi que minhas escolhas seriam abençoadas por ele. Não escolhi levianamente e sei que Aslan concorda comigo!”
Ele então anda em sua direção e faz aquilo que você esperou desde o dia em que o viu pela primeira vez. Aqui eu deixo que você mesma narre o que aconteceu em seguida:
“Ele então andou em minha direção e fez o que esperei desde o primeiro dia em que o vi: Enquanto ele se aproximava vi uma curiosidade rara em seu rosto e de novo aquele sorriso brincalhão que tanto amo. Quando ele enlaçou uma das minhas mãos e com sua direita levantou meu rosto achei que meu coração fosse explodir. Queria gritar com ele, mas aquele rosto que estava aprendendo a amar estava tão próximo que não tive reação e quando se aproximou mais ainda meus joelhos fraquejaram e então fechei meus olhos. Ele me beijou por um tempo que pareceu uma eternidade, mas quando nossos lábios se separaram parecia que não havia passado se quer um segundo.
Caspian me encarou com um ar de divertimento óbvio em seu rosto e pensei: “ – Droga deve ter sido o pior beijo da vida dele!”, mas mais um vez ele me surpreendeu ao me abraçar, também pela primeira vez e dizer: “ – Seu beijo tem gosto de vitamina de morango, talvez eu comece a pedir ao cozinheiro para que sirva essa iguaria todas as manhãs”, gargalhamos juntos e eu me senti ainda mais aliviada quando, ainda abraçado comigo, ele disse “- Eu, o Rei Caspian, escolhi você, minha princesa, sabendo do desafio que enfrentaríamos, então não, não se intimide com boatos de cozinha, porque estou certo de minha escolha! A propósito, você beija muito bem” então ele riu e me abraçou um pouco mais apertado. Escondi meu rosto em seu peito para que ele não visse minhas bochechas coradas de vergonha e agradeci silenciosamente a Aslan por saber beijar!”
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
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.Kamila Mendes
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