Estava cansada, com profundas olheiras. Seu cabelo
encaracolado e vermelho estava murcho e sem vida, refletindo o real estado de
sua alma. Muita gente não acredita, mas um cabelo reflete a maneira como a
pessoa se sente por dentro. E o cabelo de Melissa dizia isso: estou um lixo.
Mas não podia ficar na cama o dia todo, como era o que
desejava. Levantou, prendeu o melhor que pode o cabelo. Lápiz negro nos olhos e
um blush rosado devolveram um pouco de vida ao seu rosto. Batom vermelho, só
porque era sua marca registrada.
Se vestiu foi ao colégio. Milhões de pensamentos, perguntas
e dores rondavam sua mente. Todas elas refletidas nas finas linhas brancas de
seu pulso. Marcas de desabafos silenciosos e dolorosos. Prova de que não estava
morta por dentro. Prova do que precisava fazer pra se sentir viva. Percebeu que
tocava as finas cicatrizes quando o novato perguntou o que teria causado a ela
tanta dor. Com olhos arregalados, escondeu os pulsos em suas munhequeiras e
voltou sua atenção a aula. Ao menos tentou.
Ficou pensando o que Renato teria visto e o que estava
pensando: ‘Será que pensa que sou louca? Ou é apenas mais um que condena e não
fala nada!’. A dor no peito aumentou, o menino era realmente lindo. Simpático,
Renato acabara de mudar para a nova escola e ainda estava se adaptando. Com seu
amplo sorriso havia cativado a todos, inclusive Melissa.
Um garoto com grande potencial para ser popularidade que
observava demais. Melissa puxou o capuz do moleton por cima da cabeça, colocou
os óculos escuros e começou o ritual de se desprender do mundo. Selecionou a
playlist mais deprê de seu Ipod e se enclausurou. Fazia isso tantas vezes que
seus professores desistiram de tentar
algo. Nem mesmo seus pais apareciam quando eram chamados para responder sobre o
comportamento estranho da menina.
Nem sempre ela foi assim. Melissa já foi a garota mais meiga
e alegre que passou pela Escola Técnica de Ponta Grossa. Era popular, mas nem
por isso era arrogante ou humilhava os outros. Pelo contrário, circulava com a mesma
simpatia pelos demais grupos da escola, até o dia do acidente.
Continua...
Kamila Mendes
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
Marcadores: Sobrecarga