segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sobrecarga: Solidão

Seus braços não alcançavam atrás de banco, de onde vinha o suave toque do celular de Paulo. A bolsa protegera o aparelho da água. Melissa puxou um pedaço de vidro ainda preso no parabrisa e cortou o cinto no momento em que o celular parou de tocar. Com um baque surdo, ela caiu e bateu a cabeça. Ainda desorientada, conseguiu ficar de joelhos e passar para a parte de trás do veículo. 

Quando o telefone voltou a tocar ela atendeu. Andreia, mãe de Paulo estava ligando. Ela não esperou um alô. Foi logo gritando, perguntando se Paulo não tinha mãe, se já era dono do próprio nariz para voltar pra casa a hora que quissesse. Melissa não esperou, tomada pela raiva e pela dor, gritou: ‘ele morreu!’

As risadas acordaram Melissa do pesadelo. Mas uma vez motivo das risadas da turma. “Pelo menos eu diverto vocês”, respondeu amargamente às gargalhadas da classe. O sinal tocou quando a turma se calou diante da resposta da garota. Melissa puxou sua mochila, colocou nas costas e saiu como se nada houvesse acontecido. 

No corredor, colocou os óculos escuros, que escondiam os olhos injetados. ‘Sempre o mesmo sonho. Sempre a mesma dor’. Caminhava lentamente no corredor, não porque quisesse, mas porque desde o acidente, a escola parecia se mover em câmera lenta. e de novo o frio cortou sua espinha. Um vento gelado, vindo das grandes janelas dispostas ao longo do corredor, a lembrando de sua roupa molhada coberta pelo sangue de Paulo.

‘Meu lindo anjo, que me levou junto com ele’. 

Durante meses se culpou. Durante meses foi julgada pela cidade. A doce e meiga Melissa morrera junto com seu namorado. Agora aquela garota não passava de um esboço retorcido de Melissa. Já não sorria mais. As pessoas a rejeitavam porque agora era considerada um monstro que assassinara o próprio namorado. Enquanto Paulo se tornara uma espécie de mártir, Melissa havia se tornado um monstro odiado por todos.

Ela então se recolheu em seu próprio mundo. Um mundo particular. Já não tinha mais amigos e as festas eram meras distrações para que adolescentes enjoados do cotidiano pudessem imaginar que eram alguma coisa além do que pessoas medíocres sem nenhum objetivo na vida.

O objetivo de Melissa? Ir embora! A única coisa que diferenciava seus pais dos de Paulo eram as agressões físicas. Cesar e Maria viviam uma vida em um mundo fora a parte da realidade. Festas, jantares luxuosos e compras. Nunca realmente notaram a filha. Só quando ela deixara de ser perfeita.

Continua...


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Kamila Mendes

3 comentários:

Roberta Ribas disse...

Kami esta ótimo teu conto, bem juvenil, mas cheio de drama, Excepcional...=D

Dri disse...

nossa então foi esse o acidente coitada...
correndo pro proximo

Dri disse...
Este comentário foi removido pelo autor.