Ao ouvir as batidas na porta, desceu. Degrau por degrau, pé ante pé. Uma passada rápida no banheiro de visita revelou olheiras profundas. Marcas esculpidas na pele de noites mal dormidas e pesadelos intermináveis. Arrumou a franja o melhor que pode e foi em direção ao barulho.
Aquele com certeza era o cômodo, mas agitado da casa. A gritaria começava cedo e ela não entendia por que. Sentou na cadeira mais próxima, puxando as mangas de seu suéter para cobrir os dedos enregelados, pegou uma caneca e despejou o líquido. O doce e tenro aroma de cacau subiu a sua narina, misturado ao cremoso leite de gado recém ordenhado.
Com a caneca nos lábios, deixou o aroma invadir seu olfato e se impregnar por todo aparelho olfativo. Saboreou o primeiro gole, e o calor do líquido marrom cremoso se espalhou por todo seu ser,quebrando o gelo do seu interior. Mais um gole, e a sensação de familiaridade foi crescendo junto com as gargalhadas infantis ao seu redor.
Outro gole, e a nuvem escura cobrindo todo o céu já não invadia seu ser. Um gole longo, esquentando desde a língua até o estômago, despertando as papilas gustativas ainda adormecidas, e um sorriso escapou, sorrateiro, de seus lábios.
A porta se abriu, e a brisa gelada fez seu corpo tremer. Com a briza nevada, entraram na casa um homem e pão quentinho. O inverno chegou para todos, mas no coração nevado de uma jovem, o gelo derretia lentamente. Mais um gole e o inverno acabaria.
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Kamila Mendes
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