“ – Vamos descer! Onde estão minha espada e adagas?! Vamos grifo, desça!”
“ – Não, Vossa Alteza! Eu não posso arriscar vossa vida. São ordens expressas dos reis e da rainha!”
“ – Mas você não vê?! Suzana nunca lutou uma batalha só em sua vida. Nem na reconquista do trono de Caspian ela estava só. Trumpkin estava ao seu lado. Agora ela está só e comanda um batalhão inteiro. Ela precisa de mim!”
“ – Princesa, se Vossa Graça descer será morta. O veneno está agindo rápido, se a senhora descer morrerá sem receber ajuda e será a perfeita distração para a derrota da Gentil. Não podemos fazer nada. Também me é custoso assistir meus irmãos lutando sem poder ajudá-los, mas meu compromisso é com Nárnia e neste momento, manter Nárnia em segurança significa mantê-la viva!”
“ – Grifo, de que veneno você está falando?”
“ – Minha senhora, até onde eu sei, o golpe que lhe deram na nuca abriu uma ferida profunda que tirou suas forças. Nesta ferida a rainha Zilia colocou um veneno desconhecido de nossos melhores boticários. A senhora está desacordada nesta prisão há uma semana. O Rei Caspian está aflito a sua espera, nem eu sabia da gravidade do ferimento até que o vi agora a pouco. Minha senhora, se a Rainha Suzana não vencer, temo por sua vida!”
Um nó se formou em sua garganta. “Então a fraqueza não era por causa dos nós apertados e nem a sonolência por causa da caverna. Estou morrendo e talvez não consiga ver Caspian pela última vez! Aslan, será possível? Vim a Nárnia só para vê-la cair e eu serei sua primeira baixa?!”. Seu coração dói com a perspectiva de uma morte iminente. Você repousa o rosto no pescoço do grifo e chora por não poder ajudar Suzana, pela possibilidade de não mais ver Caspian e de não ter tempo de se despedir de dele e principalmente pelo futuro de Nárnia. “Prefiro morrer antes de ver Nárnia como escrava de um tirano!”
As lágrimas nublam seus olhos, mas você ainda pode ver a batalha lá embaixo. “Su, por mais que tudo estivesse contra nós, creio que ganhei uma irmã mais velha. Me perdoe por tê-la trazido até aqui, até esse momento”
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Suzana ergue os olhos e avista o grifo de resgate com você as costas e um sorriso de triunfo passa pelo o rosto da Gentil, mas um estrondo ao seu lado faz com que ela perceba que ainda é cedo para contar vitória. Um dos grifos foi atingido em pleno vôo rasante e caiu aos pés da rainha. O olho da criatura fora vazado por uma flecha calormano.
Só então a rainha se dá conta do que você já havia percebido: ela está sozinha! Suzana olha para um lado e para o outro e pela primeira vez se vê comandando uma batalha. Um medo toma conta da Gentil, seu estômago se contorce em protesto, mas não há nada a fazer, ninguém a quem recorrer. No fundo ela contava que você não estivesse tão debilitada, e juntas, poderiam travar essa batalha.
Não tem Pedro gritando ordens para que a retirem do campo de batalha assim que as coisas começam a ficar perigosas demais, nem Edmund brandindo as espadas e mantendo os inimigos longe, derrubando um após o outro, tamanha a perícia com armas que seu irmão caçula tem, muito menos Lucy a animando com aquele sorriso de confiança absoluta de que tudo acabará bem. Não existe Caspian chegando montado em um cavalo para livrá-la dos oponentes, somente ela que tanto tentou fugir de guerras e dos conselhos de guerra e agora se vê diante de uma mulher que luta como homem cujo único objetivo é matá-la!
“Aslan eu não consigo! É demais para mim! Eu nunca lutei sozinha antes! De fato, nunca fiz nada só! Tudo o que fiz meus irmãos estavam comigo ou outras pessoas estavam ao meu lado! Eu não consigo...”, antes que a Gentil pudesse continuar seu lamento, Zilia começa a atravessar o campo de batalha. A única pessoa, ou coisa, que Suzana viu em sua vida, tanto em Nárnia quanto em Londres, que se movimentava com tamanha determinação em um campo de batalha como a rainha calormana era Jadis, a Feiticeira Branca. “Mas esta Aslan derrotou!”
“ – Vamos ver, Rainha Suzana, do que vocês narnianos são feitos! Ou você fugirá, Rainha Gentil, como todos em Nárnia contam que a antiga Rainha Suzana, nunca participava de guerras!”, com desdém Zilia cospe no chão ao mencionar o fato de Suzana não participar de guerras. “ – Esperava alguém a minha altura, mas seu rei, esse rei fraco que você quer manter no trono, manda justamente uma garotinha que se quer sabe usar uma espada. Tenha dó. Derrubo você com os olhos fechados e com uma única mão! Vamos pegue uma espada, pois não há honra em derrotar uma oponente fraca e desarmada!”
Se havia uma coisa que Suzana detestava mais do que estar sozinha era ser tratada como criança, com indiferença e ser diminuída, e principalmente, ser tratada como criança na frente de seus súditos.
“ – Não, Rainha, eu prefiro lutar com o arco!”
Soltando gargalhadas Zilia, começa a andar ao redor de Suzana, medindo-a dos pés a cabeça. Nesse momento a Gentil percebe que o campo de batalha está fervilhando, mas ela e a rainha calormana se encontram bem no centro da batalha, como se uma clareira tivesse sido aberta apenas para que elas lutassem.
Suzana fecha os olhos e começa a se lembrar das lições recebidas de Pedro e Edmund. Ela dizia sempre que não precisava aprender a se defender, pois nunca participaria de uma guerra e sabia que seus irmãos não deixariam nada acontecer a Nárnia. Ao lembrar disso, uma lágrima rola no rosto da Gentil, no exato momento em que ela relembra de Edmund com a espada erguida e Pedro a instruindo a perceber os movimentos do oponente. Esse dia em especial foi a primeira vez que ela conseguiu aparar um golpe de Edmund e isso foi comemorado por todos, pois em toda Nárnia sabia que somente um espadachim rivalizava o Grande Rei Pedro em perícia, destreza e força e este alguém era Edmund.
“Se um dia fui capaz de enfrentar Edmund, posso perfeitamente enfrentar esta cobra!”
Como um gato se vira para cair em pé, Suzana se virou e aparou um golpe de Zilia com o arco. O espanto corou Zilia e Suzana mais uma vez ouviu Pedro. “Irmã, aproveite cada brecha que o inimigo lhe der.”, falava o Grande Rei. “Aproveitar momentos de surpresa, medo e até indecisão não desonra, irmã, é estratégia!”, incentivava Edmund.
Então, antes que Zilia se recuperasse da surpresa, Suzana ergueu o arco como se fosse um bastão e o fez descer no rosto da soberana da Calormânia. O baque da madeira do arco contra o maxilar de Zilia fez um barulho incomum e manchou o arco de vermelho sangue.
Zilia caiu e dessa vez Suzana se sentiu segura, mas antes que pudesse desferir qualquer outro golpe Zilia se levantou tão rápido que Suzana não conseguiu prever seus movimentos. A rainha calormana se levantou e girou sobre seus calcanhares, sacando a cimitarra, volteou ao redor de Suzana e aferiu a Gentil bem abaixo das costelas direitas. Com um grito surdo de dor, Suzana caiu sobre os joelhos segurando com uma mão o arco e a outra tentando estancar o sangue.
A calormana apenas ria e andava de uma lado a outro. Esperou pacientemente até que Suzana pudesse levantar. A batalha ao redor das duas havia cessado, os soldados estavam assistindo a luta em um silêncio absoluto. Somente o grifo e você continuavam em movimento lá no alto, observando. Suzana quis se render. A dor era absurda, mas ao olhar para o alto ela a viu se erguendo e tentando fazer o grifo dar meia volta, então a Gentil decidiu continuar.
“Se ela, só uma criança que a pouco tempo nem sequer tinha visto um rato falar, tem tanta coragem, como pode eu, Rainha de Nárnia, coroada pelo próprio Aslan, ter tanto medo! Ela precisa de mim para chegar a Caspian a tempo de ser salva! Ah, Aslan, porque eu? Lucy teria feito um trabalho tão melhor!”, Suzana se ergueu do chão e então percebeu. A distância entre ela e Zilia era perfeita para um lançamento de flecha. Ela só teria que agir rápido o suficiente para que a rainha não percebesse.
A dor abaixo das costelas limitava os movimentos da Gentil e por isso Suzana estremeceu. Zilia zombou dela, chamando-a de pobre criança e perguntando “Onde está seu gatinho agora, heim? Ô, o gatinho não existe não é?!”, ao ouvi-la mencionar Aslan com tanta zombaria, Suzana se lembrou de todas as vezes que Aslan a ajudara e em especial daquela vez em que ela teimou em não acreditar em Lucy quando esta dizia que Aslan iria guiá-los!
“ – Esqueça seus receios!”, Aslan falara daquela vez e Suzana o ouviu.
Ao perceber Suzana estremecer, Zilia Investiu mais uma vez. Mas dessa vez Suzana desviou o golpe com tanta força que a rainha foi obrigada a se afastar dela e mais uma vez Suzana atacou com o arco como se este fosse um bastão repetidas vezes e Zilia foi obrigada a se esquivar, sem ter tempo de erguer a espada, afastando-se ainda mais. Foi o suficiente, antes que a rainha calormana pudesse perceber, a Gentil ergueu o arco, pegou sua melhor flecha e tencionou o arco o máximo que pôde, lançando a flecha contra a adversária.
Por um momento, você e Suzana viram tudo em câmera lenta: os soldados narnianos percebendo o desfecho daquela luta voltaram à batalha, Zilia se virando para encarar a Gentil com fúria nos olhos e de repente a fúria é substituída pela surpresa e depois pela dor. A calormana tombou no chão com uma flecha cravada direto em seu coração. Após a queda de Zilia, a cruel, os soldados calormanos foram reduzidos a cinco homens que se renderam a corajosa Suzana de Nárnia.
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Assim que a batalha de Suzana acabara, seu grifo pousou. Suzana foi em sua direção e, antes que você pudesse falar qualquer coisa, a Rainha Gentil a abraçou, avaliou sua ferida e ordenou que todos retornassem o mais rápido possível a Cair Paravel. Mas antes de partir, por uma sugestão sua, Suzana enviou o corpo de Zilia ao acampamento de Arãn com o seguinte recado:
“ – Você ousou desafiar o Rei de Nárnia, raptando e ferindo sua noiva e aos berros zombou de Aslan e qual foi sua vitória? Sua esposa está morta! A Princesa está em liberdade! Desista, antes que seja tarde! Não duvide mais do Leão que você ousa chamar de gatinho!”
É preciso dizer que antes da batalha com Suzana, Zilia tinha sido responsável por capturar e sequestrar todas as demais esposas e concubinas de Arãn, reduzindo-as a suas escravas pessoais. Assim como seu esposo, Zilia jamais tinha sido derrotada, ou se quer tinha se machucado. Mas isso aconteceu antes de chegar em Nárnia!
NOTA DA AUTORA: Zilia conquistou a confiança do jovem Tisroc nas inúmeras guerras que o rei calormano travou. De todas as esposas, ela fora a única a não ser conquistada em guerra. Pelo contrário, o casamento de Arãn com Zilia fora arranjado pelo pai do jovem, o falecido Tisroc. Antes de morrer, o rei calormano assegurou que seu herdeiro se casaria com uma grande senhora. Ele escolheu entre as filhas dos tarcaãs mais poderosos, grandes senhores de guerra. Ao casar Zilia com Arãn, o falecido rei garantiu que a linhagem de sua família continuaria sendo de grandes guerreiros. A tarcaína escolhida era versada em diversos tipos de luta e tinha grande apreço pela guerra.
Zilia participou da captura das outras esposas e das concubinas de Arãn pessoalmente, em parte por conter em seu coração a mesma soberba que fazia com que se sentisse superior as outras mulheres, em parte por ciúmes, apenas para assegurar que as mulheres capturadas nunca conquistassem o coração do rei. Com o tempo, Zilia passou a ser respeitada por Arãn e foi enviada nas missões mais importantes das quais o rei exigia vitórias imediatas e esmagadoras.
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Kamila Mendes
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