- Papai Noel, sei que você não existe, mas todos os anos alguém se veste como você e visita minha casa, mas nunca trouxe o que eu peço. Então, este ano, só quero uma coisa, a mesma de sempre, seja lá quem você for, traz meu papai de volta, por favor?!
Já faziam semanas que aquela cartinha tão singela, de apenas cinco linhas, tinha sido escrita com letra garranchosa por mãos rechonchudas e ansiosas.
Todos os anos uma mãe orgulhosa e bela descia as escadas e lia as cartas de seus pequenos. Uma boneca para Emília, um livro para Carlos, o que minha pequena Cecilia quer? Oh... e lágrimas rolaram pelo rosto da jovem mãe. Soluços perturbavam seu peito e lembranças a assolavam... lembranças de um amor perdido, de promessas quebradas, de crianças assustadas e uma aliança rompida.
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Há alguns anos, em uma manhã semelhante, os gritos do casal fora ouvido naquele silencioso e pequeno quarto de bebê. Seus pesinhos lutaram para descer do berço e com esforço correram pelo corredor, desceram as escadas, afoitos tadinhos, sufocados pelo medo. Mas ao chegar na sala, seus olhinhos viram apenas o rosto do pai, transtornado pela raiva, um aceno de mão Amo vocês, disse ele, e a porta de fechou num baque violento. Os irmãos mais velhos consolavam a mãe e aqueles olhinhos se estreitavam de dor e confusão.
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A neve batia contra o vidro da janela. As cortinas, tão rasadas, davam um ar tão suave que em nada refletia a ansiedade daquele pequeno coração. Amanhã é véspera de Natal, e o coraçãozinho, esperançoso, lançava seus pedidos ao céu: Por favor, traz meu papai pra mim?! E os olhinhos se fechavam em oração.
A noite caiu, mas o sono não chegou. O vento uivando lá fora, lançava sobre a pequena cama ondas e ondas de aflição. Como pode um pequeno coração ser ferido assim? Continuou deitadas, encolhida debaixo das cobertas, aproveitando o aconchego e calor do colchão. Sem perceber, o vento parara de uivar, as arvores já não gemiam e a neve caía em leves e suave flocos: era manhã de Natal. Mas não havia alegria em seu olhar, não fora despertada pelo abraço do pai, não ouvira sua mãe falar dele por dois anos. Se sentia só e tola.
Pisou no chão frio de madeira vermelha e caminhou sem nenhuma ansiedade. Desceu as escadas, mais queria permanecer deitada. Seus olhinhos se acostumando com a claridade do dia. Seus ouvidos registrando os sons da manhã natalina.
Então duas badaladas e seu coração saltou pela boca. Desceu os degraus que faltavam pulando e chegou a sala e lá estava ele. Seus braços ao redor dos filhos mais velhos. Lágrimas em seus olhos. Então ele não me esqueceu. Obrigada Pai do Céu. Orou como fora ensinado e correu. Se jogou nos braços do pai e até hoje se lembra de quão feliz foi aquele dia.
Sentada na cama de seus filhos, ela conta o real significado do de estar em família. Termina a história com lágrimas nos olhos. Fecha a porta do quarto. E agradece baixinho: obrigada por aquele Natal, Senhor, obrigada pela minha família!
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Kamila Mendes
Kamila Mendes
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