Sonhei com sua voz suave e mansa ao pé do ouvido dizendo "amo
você"! Foi bom, me senti viva, amada. Como só me senti no inicio de tudo.
Sonhei que defendíamos um ao outro de tudo, e de todos os
dragões que se levantaram. Sonhei que você se importava comigo, que ouvir minha
voz era o ponto alto do dia. O coração leve e sorriso no rosto foi o que
restou, até que a realidade me abateu.
Com olhos abertos durante a madrugada, me perguntei o que
fez eu me lembrar de você. Há semanas, quisá meses, seu nome era apenas uma
palavra qualquer que rondava os dias. Mas em minutos voltou a significar algo.
Fechei os olhos, tenteis espantar os fantasmas da dor e
indiferença, mas sua voz continuava a ressoar: “saudade de você, anjinho”.
Nenhuma estocada no peito teria o mesmo impacto doloroso do que essa lembrança.
Levantei e caminhei sem rumo. O azulejo gelado da sala me
fez lembrar que já não dormia mais, que agora cabia a mim lutar contra as
lembranças. Atirei muitas no lixo sabendo que eram meras ilusões da mente.
Nunca aconteceram!
Algumas estavam ali, diante de mim, vividas, esquentando meu
coração e trazendo lágrimas aos olhos. Fantasia, ilusão ou realidade? Quanto
daquilo de fato era lembrança e quanto daquilo era apenas um jogo mental. Minha
mente pregando peças em mim mesma.
Sou minha pior inimiga. Lanço uma quantidade abusrda de água
gelada no rosto para diluir os sentimentos confusos que transparecem nas
feições em choque de meu rosto. Olho no espelho e pergunto: o que foi? Era só
um sonho! Mas sua gargalhada absurdamente gostosa ressoou em meus ouvidos e
chorei por dentro. Chorei lágrimas que já não me permito derramar.
Não vou cair na ilusão de te ligar. Não quero mais te
procurar. Sei, agora sei que fui apenas uma peça de seu jogo solitário de
tentar fugir de uma realidade fugaz e sem sentido.
Acordo assustada no meio da noite com a sensação de que o
tempo parou naquele momento, que pelo amanhecer vou despertar com uma mensagem
sua no celular. O coração aquecido tenta driblar a dura frieza da realidade.
Levanto os olhos e agradeço pelo simples fato de que toda
essa tormenta se passou em segundos. Um turbilhão de emoções me lançando contra
as pedras da realidade. Vivi tudo em um abrir de olhos.
Luto para adormecer, mas o sono me abandonou de vez. Observo
então a dama dos céus se despedir da noite e dar lugar ao espetáculo do grande
astro. É hora de levantar. Me dirijo ao banheiro. Demoro no banho, visto uma
roupa bem confortável. Luto com a dor de cabeça vinda dos conflitos internos.
Visto minha armadura de guerra e sigo em frente. Vou enfrentar mais um dia,
armada e segura, sabendo que você não está lá!
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Kamila Mendes
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