Limpava as lágrimas que manchavam sua maquiagem. Era uma
tentativa inútil de mascarar seus sentimentos. Carmem passava a ponta de
seus dedos pelas bochechas manchadas, enquanto segurava, com a outra mão, o pó
compacto. Retocar por fora para esconder por dentro.
Ouvia a plateia lá fora. Seria mais uma apresentação. Mais
um dia em que fingiria felicidade enquanto o público fingiria gostar dela. “Porque,
na verdade, é isso. Eles amam uma imagem criada em sua cabeça. Alguém perfeito,
que não se parece nada comigo”. Pensou em não aparecer hoje. Pensou em
levantar, dar as costas a tudo e simplesmente sair. Precisava de tempo para
pensar.
Há muito engolia a dor que transbordava dentro de si. Doía,
mas Carmem sorria. Era melhor dessa forma, mas fácil talvez. Ela não sabia
dizer. Mas nunca entendeu o que se passava com ela. Sabia, sim, que faltava
algo. Alguém. Buscou em lugares imundos e sórdidos, se acalentou em amores. Fez
amigos mais falsos do que as mentiras que contavam.
Drogas se tornaram seu refúgio e o palco já não preenchia
seu ser. O teatro foi um esconderijo interessante. Durou mais que os outros e
ela se sentia feliz por viver, ao menos por pouco tempo, a vida de outra
pessoa. Mas, assim como os demais artifícios, passou.
Sem querer Carmem construiu uma carreira sólida. O prazer
que tinha em interpretar permitiu que vivesse com intensidade cada papel. Ela
se sentia viva. Peça após peça, Carmem cresceu como atriz. Mas, à medida que
crescia em sua carreira, se sentia morta por dentro. “Que contradição bizarra é
essa? Tanta gente lutando pela carreira dos sonhos e eu tenho, mas não sou
feliz!”
Felicidade sempre foi um nome desconhecido. Desde a infância
quando morava com sua mãe alcoólatra abusiva, jurou não ser igual e agora se
olhava no espelho vendo apenas uma sombra daquilo que queria ser, que deveria
ser. Se arrependeu de ter jurado. Se arrependeu de não ter dito adeus.
O sinal vermelho acendeu, anunciando que deveria voltar ao
palco. Vestiu o figurino. Se revestiu da personagem. Pôs um sorriso estonteante
no rosto e subiu no tablado. A luz incadescente ofusca sua visão. Não via a
plateia e não a queria ver de verdade. Fechou os olhos e imaginou uma criança
sorrindo, sentada na primeira fileira, balançando os pezinhos, feliz por
assistir sua primeira peça. Sorriu quando a plateia aplaudiu e a garotinha
sussrrou: “quero ser como você!”
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40.
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Kamila Mendes
Marcadores: Inspiração