domingo, 3 de junho de 2012

Um Pequeno Conto! (Parte VII)

A festa chegou ao seu auge e o sorriso não abandona mais o rosto de Caspian e toda vez que vocês se olham é como se compartilhassem um segredo. Você sente que está esquecendo alguma coisa, mas não sabe o que é, mas você faria qualquer coisa para não ver aquele sorriso desaparecer, por isso você sempre retribui esse sorriso que é capaz de tirar o fôlego de qualquer uma!

E então você caminha e vai até a Rainha Gentil e pede desculpas pela sua ausência. Fazendo valer o título dado por Aslan, Suzana se mantém sempre alegre e educada e não julgou sua ausência como um desrespeito. Você a observa cumprimentando a todos e se sente um pouco tola por simplesmente não saber se movimentar nos círculos do poder como ela.
Alguém sussurra em seu ouvido: “– Ela sempre foi assim. Não me lembro de nenhuma história que mostre essa rainha sendo arrogante. Sempre se julgou mais adulta que os outros, às vezes subestimando o próprio Rei Pedro, O Magnífico, mas nunca sendo arrogante ou subjugando os outros. Isso fez com que a fama de sua beleza varresse toda Nárnia!”

Com um sobressalto, você se vira e percebe um senhor com quem você conversou pouquíssimas vezes. Ele é baixinho e gordinho, mas muito simpático e, no entanto, nunca se aproximou de você! O tutor de Caspian está encostado em uma pilastra, ao seu lado, observando aquela que sempre foi alvo de seus estudos.

“– Sabe, princesa, a Rainha Suzana sempre me intrigou. Apesar de gentil, ela poucas vezes se envolveu nas
questões de Nárnia e quando fazia, era porque o Grande Rei Pedro o mandava! Ela é tão diferente de sua irmã. Pena que a Rainha Lucy não seja tão lembrada como a irmã mais velha. Você precisava ver aquela garotinha em ação. A fé dela em Aslan nos salvou!”

“– Professor, essa é a primeira vez que o senhor fala diretamente comigo. Por quê?”

“– Bom, acho que eu estava esperando alguma coisa de você. Penso que esperava que você desistisse ou coisa parecida e eu tivesse que consolar o Rei, porque, pode não parecer, mas o criei como um filho. Mas aqui está você, de cabeça erguida diante da única que pode ameaçar o seu reinado e mesmo assim você permanece incólume. Você está calma e serena, chego a pensar se Aslan tem alguma coisa haver com seu surpreendente equilíbrio emocional. Mas o fato é que estou me desculpando com você e propondo uma aliança: Eu, talvez mais do que você, quero descobrir o que trouxe Suzana de volta se, há cerca de dois anos, Aslan disse que ela não retornaria mais! Algo está acontecendo em Nárnia. E tem mais, onde estão os outros Pevensie? Eles deveriam estar aqui também!”

“– Seria ótimo se Pedro estivesse aqui. Um pouco de competição faria bem a Caspian!”. Só depois de ter falado é que você percebe que o disse em voz alta, mas prefere não se desculpar. O professor a olha com canto do olho e desabafa: “ – Penso que você pode estar certa. Um pouco de concorrência faria com que Caspian se lembrasse de como é viver a sombra de um grande mito e então ele entenderia sua situação!”

“– É professor, penso que podemos ser grandes amigos!”. Com um sorriso de satisfação, mas uma vez você se aproxima da Rainha e ouve vestígios de uma longa conversa que ela teve com um centauro:

“-... Sim, sim, acredito que você esteja certo, mas seja o que for estou de volta e algo está acontecendo. Não entendo como vim parar aqui de novo. Só posso crer que foi a vontade de Aslan, mas estou um tanto confusa!”

“ – Mi Lady, se permite posso estudar as estrelas e tentar descobrir”

“– Não centauro. Posso muitas vezes ter sido tola no passado, mas de uma coisa sei. As estrelas servem para determinar momentos e fenômenos da natureza, não para prever o futuro. Agradeço sua preocupação, mas deixo o futuro nas garras de Aslan” E então, ela acrescenta baixinho e só você pode ouvir. “– Se é que ele pode me ouvir!”

A rainha Suzana percebe sua presença e desconcertada pede para ter um minuto de conversa com você, em particular. Vocês, rainha coroada por Aslan e princesa escolhida pelo Leão, andam juntas pelo jardim. Depois de um momento de silêncio, ambas se sentam em uma pedra e Suzana fala:

“– Peço desculpas, princesa. Foi prepotência minha anunciar minha chegada a Nárnia justo em sua festa de noivado. Creio que minha vaidade possa ter arruinado sua noite!”

Você sorri e responde: “– Com certeza, sua chegada me assustou. Mas não há porque se preocupar, a noite ainda não está perdida.”

Com um suspiro profundo Suzana encara você pela primeira vez e desabafa:

“ – Tenho que admitir que você é bem diferente do que imaginei. Você é forte e carismática e bonita também. Sua
presença é facilmente notada. Quando soube do noivado, achei que Caspian havia escolhido uma oportunistazinha qualquer. Mas ele soube escolher e tenho que admitir que essa realidade é desconfortável!”

Aproveitando o desabafo da Rainha, você abre seu coração: “– Desagradável é saber que tenho que tenho que competir com fantasmas. Não só pelo coração de Caspian, como também pelo coração do povo! E quando achei que eles começavam a me amar, você reaparece! Isso mexe com a cabeça de uma pessoa, sabia?”

Suzana começa a rir e responde: “– Bem que Caspian me avisou que você era espirituosa. Ele só não me disse nada a respeito da sinceridade. Mas uma vez peço desculpa pelo meu impulso. Podia ter esperado uma hora melhor para me apresentar. Podia ter feito antes da festa ou dias depois. Meu orgulho foi mais forte que a ração. Mas tenho que admitir que talvez esse fantasma que eu represento, esteja sendo suplantado pela sua presença de espírito!”. Ao dizer essa última parte a voz da Gentil estava baixa, quase um sussurro e então você a olha e descobre uma espécie de tristeza nostálgica no olhar da Rainha.

Assustada consigo mesma por estar sentindo... O quê? O que é isso que você está sentindo? Pena? Não. Isso vai além de pena. Você compartilhou a dor dela, porque ninguém melhor do que você sabe como é sentir-se deixada de lado! Então você pergunta em um tom baixo, quase assustado pela resposta que virá:

“– Você o ama Suzana? Você largaria sua vida para viver em Nárnia ao lado dele?”

Ela, por sua vez, dá um sorriso triste quase debochado e responde:

“– E o que é o amor, princesa? Você pode me responder? É um bando de aves ou borboletas voando dentro de seu estômago ou um frio que corre por sua coluna? É um amontoado de sentimentos confusos que só te fazem sofrer! Isso é o que significa amor para mim!”

“– Amor, Mi Lady, ao menos para mim, significa que você é capaz de salta abismo sobre abismo e mesmo assim não se cansar, se o objeto de seu amor assim desejar. É você dar a vida em favor de quem você ama. É abandonar sua vida por ele!”

“– Se esse é o significado real de amor, eu não sei. Gostaria sim de poder ficar aqui e reinar ao lado dele. Mas essa opção nunca me foi dada! E hoje, já não seria capaz de abandonar tudo por ele. Nos EUA estou morando com meus pais. Por tanto anos desejei isso. Lucy ainda sonha em vir para Nárnia, mas eu começo a me readaptar. Não gostaria de passar por todo aquele processo de ter que discernir o que é de Nárnia e o que não é! Espero, do fundo do coração, que você jamais tenha que passar por isso!”

Vocês se calam e assistem ao espetáculo das estrelas no céu e você pensa: “Quanto amargura em um coração tão gentil. Se eu pudesse faria com que ela ficasse aqui. Deve realmente ser difícil ter seu coração dividido em dois mundos. Deve ser difícil amar alguém que nem se quer vive no mesmo mundo que o seu. Será que é isso que Caspian sente?”

Esse pensamento provoca uma dor incrível dentro de você e um sentimento de urgência, de aproveitar cada minuto com ele, pois este pode ser o último. Suzana percebe sua inquietação e a convida a entrar, mas antes que possam dar um passo a mais, você puxa a Rainha Gentil por um braço e faz o inesperado: você a abraça!

Assustada Suzana tenta se afastar, mas você não deixa e então ela pergunta: “– O que exatamente significa isso, Princesa dos Vales do Leste?”

“– Quando eu morava em nosso mundo, sempre que me senti só e perdida, foi o abraço de uma amiga ou de minha mãe que me mantiveram presa ao chão. Eu entendo você, Suzana, e não te julgo, mas penso que mesmo a grande Rainha de Nárnia, às vezes, precisa de um abraço!”

Então Suzana se deixa abraçar. Como ela permanece em silêncio, você pensa que talvez tenha ido longe demais até descobrir que a Rainha Gentil está chorando.

“– Por vezes, princesa, a única coisa que pedi de Aslan foi pertencer a um único lugar. Ou a Nárnia ou ao meu mundo. É extremamente difícil dar continuidade a sua vida em Londres ou nos Estados Unidos, quando seu coração está inclinado a um povo que você não vê há muito tempo. E você nem sequer sabe se nesse exato momento se passou apenas uma hora ou milênios lá! É realmente confuso. Não entendo como Lucy e os outros lhe dão tão bem com isso!”

“– Eu creio que o que mantém Lucy firme é a fé inabalável que ela tem Aslan, minha rainha. Às vezes eu sonho que posso ser como ela: valente o suficiente a ponto de nunca perder minha fé!”

Vocês duas sorriem juntas e seguem em direção do baile.

Assim que vocês entram, Caspian a chama a frente. Com um tremor que atravessa todo seu corpo, você anda em direção a ele, com um esforço sobre humano porque, de alguma forma, você ficou nervosa e não sabe porquê!

“– Meus amigos e súditos leais, esta festa tem um único objetivo. Com todas as surpresas da noite, talvez vocês tenham esquecido, mas eu não! Eu, Rei Caspian X, tenho a honra e o orgulho de lhes apresentar a futura rainha de Nárnia, minha noiva Princesa dos Vales do Leste”

Você está surpresa, porque de alguma forma, você acabou esquecendo que essa era a festa de seu noivado e então se vira para olhar o rosto de Caspian e ele está deslumbrante com um sorriso enorme nos lábios. Sua surpresa aumenta quando ele, impulsivamente, se ajoelha toma sua mão direita e lhe mostra uma aliança. Você sente seu coração bater em um ritmo frenético, suas mãos suam e ai... meu... Deus... ele vai pedir:

“– Princesa dos Vales do Leste, Vossa graça aceita se casar comigo? Vossa graça, aceita por livre e espontânea vontade, passar o resto dos seus dias ao meu lado, vivendo e governando Nárnia? porque, de uma coisa eu sei: Não aceitaria ninguém menos do que você sentada no trono, ao meu lado!”

Com os olhos arregalados e cheios de lágrimas, você se sente uma estúpida por chorar, pois dessa forma você não consegue gravar a expressão do rosto de Caspian por estar com os olhos embaçados de choro! E com uma voz rouca e embargada você responde:

“– Sim, eu aceito, por livre e espontânea vontade ser sua mulher e mesmo que você não fosse rei, eu aceitaria da mesma forma!”

Enquanto todos aplaudem e o sr. Texugo enxuga uma lágrima do rosto peludo, e olha que você nem sabia que os animais falantes de Nárnia choravam desse jeito. Caspian se levanta, a toma nos braços e a beija. Mas antes que ele pudesse lhe beijar, você tem um momento para avaliar o salão e, com uma tristeza inesperada misturada com a alegria do momento, você descobre que a Rainha Suzana não está mais na festa!

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Kamila Mendes













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