domingo, 8 de abril de 2012

Degrau



 Por entre lágrimas, muitas vezes ela se perguntou porque aquela dor insistia em corroer seu peito. Porque as lágrimas caiam insistentemente e seu instinto de autoproteção estava tão abalado!

Deitava a noite e pensava nas frases e declarações de amor tão perfeitas. Quando a boca amada se calou e trocou palavras de amor e afeto por sorrisos hipócritas e de escárnio? Quando a vida ficou de ponta a cabeça, a ponto de trocar a segurança do carinho amigo, pelo amor de um estranho? Quando os braços protetores se tornaram mãos violentas.

Atitudes matam e palavras cortam, mas ele não percebeu. Ele não quis perceber. Se escondeu por detrás de sorrisos falso e atenção afetada, deixando ela, outrora alvo de seu imenso amor, hoje apenas um leve e irritante passatempo, a derramar sua alma em um deserto onde não mais brotaria a flor do amor.


Ela chorou. Gritou. Rasgou sentimentos. Quebrou promessas. Se olhou no espelho e não mais se reconheceu. Ela já não estava ali. Então, quem era aquela que vestia sua pele e colocava sorrisos vazios em seu rosto e gestos frios em suas mãos? Uma impostora que tentava desesperadamente preencher o buraco deixa pela sua ausência.

Se olhava como de um espelho. Via vida como se já não a vivesse e apenas fluía pelos dias, pelas horas. Apenas sorria pelo dia e chorava durante a noite. As conversas eram vazias e a solidão era o melhor local. Até que um dia, sem nem pensar, ela olhou uma flor. As cores vibrantes outrora apagadas, a suavidade das pétalas, a vida exalada em algo tão pequeno a fez sorrir.

Encostou a ponta de seus dedos nos lábios não acreditando e se olhou na janela mais próxima. De fato, estava ali: um esboço de felicidade. Algo tão sutil e maravilho. Ficou parada no tempo, a fronte franzida em intensa concentração. Vasculhou o mais intimo de seu ser. ‘Mas afinal, onde estava aquela dor?’

Ainda estava ali, escondida. Arranhando furiosamente as paredes de seu ser. Rugia como um animal enagaiolado, mas sua violência, seu ódio venenoso já não escorria por suas veias e chegava ao coração. Vestiu a roupa mais leve e calçou os sapatos mais confortáveis. Caminhou sem preocupação. Procurou o melhor local. Encontrou. Sob a sombra de uma árvore frondosa, estendeu uma colcha de retalhos contendo todas as lembranças. Sentou-se. Retirou lentamente uma folha de papel, uma caneta e um livro para apoiar e escreveu: ‘Olá, pequeno degrau. Hoje é um novo dia...’

OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40.

Kamila Mendes

4 comentários:

RafaSR disse...

Amei né' vc é demais mana.
É a continuação dakela história, não é? Só sei q amo seu jeito de escrever. Parabéns.

Kamila Mendes disse...

oxi Rafinha, você é muito fofaaaaaaaaaaaaaaaaa *-*

então, não é não...são só pequenos contos.

Na realidade, esse em especial é real. Só contei de uma forma romantizada e poética os meses que levei pra me recuperar de um coração partido! É endereçado a uma grande amiga tmbm que passa pela mesma situação gora, pra que ela veja que tem sim uma luz no fim do túnel da dor!

Elton SDL disse...

Adorei o texto, Kami. Super envolvente, prendestes o leitor por meio da dissecação dos sentimentos e percepções do eu-lírico. Apesar do tema abordado ser já bastante recorrente, você o esquematizou de uma forma original, ricamente poética e cheia de figuras de linguagem bem construídas.
Ressalto: durante a leitura prendi-me imensamente nas palavras, mergulhei no ritmo faceiro da prosa e cheguei mesmo a me situar e sentir do ponto de vista da voz narrativa. Meus parabéns!

Isabela disse...

Manaaaaaaa Deeemaais *-*
Muuito Perfeitoooo...
Isso é envolventemente, começou a ler tem q ir até o final.
Meus parabéns