Encarando aquele sorriso bobo, aqueles
olhos miúdos e quase vazios, se perguntou: eu
já fui apaixonada por isso? Que decepção. Em suas lembranças, ele parecia
mais maduro, mais másculo, mais vivo. Ali, dentro daquele ônibus, anos depois,
parecia apenas um cara qualquer. Um baixinho como qualquer outro.
Mas anos antes, sua rejeição provocara
lágrimas e meses de dor de cotovelo. Horas e horas ao telefone com a melhor
amiga, chorando, reclamando e perguntando como aquele ser podia ser cego a
ponto de não enxergá-la. Mas ali, diante dele, percebeu que a cega era ela.
Vira nele qualidades que não existiam. Cadê
aquele charme de príncipe encantado, a pele branca e rosada que tanto a atraía?
No lugar dessas coisas, havia apenas um sorriso bobo (bobo de abestalhado
mesmo!), um olhar tonto e uma pele pálida, amarelada e oleosa. Os lábios com os
quais tanto sonhara, eram apenas linhas finas, um pouco cheias, mas repuxadas,
como se alguém puxasse um barbante.
Não é parecido com o Coringa, como devem
pensar, mas também não é nenhum deus grego, como ela pensara ser. Um desconforto
tomou conta. Olhou e viu que ele encarava com uma espécie de admiração no
olhar. Estranho, muito estranho.
Desceu do ônibus tão logo avistara o ponto
em que desci. Foi pra casa contente: enquanto ela apenas se decepcionara ao ver
como pudera ter se apaixonado por ele, o rapaz apenas a encarava com um olhar
do tipo: Não acredito que perdi isso!
Vitória, e um pensamento um tanto
engraçado: Eu devia tah bêbada durante os
meses de paixonite aguda! Seguiu sorrindo e admirando a Lua.
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Kamila Mendes
Marcadores: CRÔNICAS