terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Bela - uma princesa diferente (Parte II)

A história que deu origem ao conto

Assim como os demais “contos de fadas”, A Bela e a Fera é um conto antigo, cujas origens podem datar do início da era cristã, ou mais antiga ainda, pode ter surgido na Grécia Antiga. Diferente dos demais contos, como Chapeuzinho vermelho e Bela Adormecida, o tema central de A Bela e a Fera é basicamente o mesmo, apesar das alterações sofridas ao longo do tempo.


Porém, a verdadeira história por trás do conto ainda é um mistério. Existem, no entanto, relatos dispersos no tempo. Mas ainda não se sabe que foram os verdadeira Bela e nem quem teria sido a temível Fera.

 Fatos Históricos

Os primeiros relatos oficializando o título "A Bela e a Fera" foram feitos durante a Idade Média, entre os séculos XVI e XVII. O conto foi oficialmente publicado pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Gallon de Villeneuve, logo em seguida outros autores, como o italiano Giovanni Francesco Straparola e pelo também francês Charles Perrault, também contribuíram com suas versões.

*Vocês já perceberam que a maioria dos contos de fada tem origem na Idadde Média?! Algo de muito estranho acontecia nessa época com o povo. Eles tinham uma imaginação voltada ao macabro, mas pelo menos nos rendeu boas histórias e ótimas teorias.

Mas, o conto não surgiu na Idade Média. Pode-se dizer que A Bela e A Fera  vem dos tempos da Grécia Antiga, com a história de Eros e Psique.

- Grécia Antiga

O mito de Eros e Psique conta a história de uma bela jovem, Psique, da qual Vênus (correspondente romano de Afrodite) tinha inveja e mandou seu filho, Eros (Cúpido), usar sua flecha para fazer com que a jovem se apaixonasse pelo o o monstro mais temido. Mas ele se apaixona por Psique. Quando o pai da menina vai consulta um oráculo em busca de um marido para a filha, Eros intervém dizendo que ela está destinada a casar com uma horrível serpente e que deveria ser abandonada no alto de uma montanha.

Dessa forma, ambos desenvolvem  uma intensa paixão, porém, Eros exige que nunca fosse visto pela amada, que aceita, por se sentir realizada com seu casamento. Com medo de que seu marido seja um ser monstruoso, ela acaba olhando Eros durante à noite com uma lamparina à vela. Nesse momento, Eros acorda e, revoltado por Psique tê-lo desobedecido, vai embora. Entretanto, acaba voltando, após fazê-la passar por uma série de provações, e os dois se casam e são “felizes para sempre”.

Com o passar do tempo, o mito se tornou a história de Eros, que ao desobedecer Afrodite foi transformado em uma gigantesca serpente, e tentava ganhar a confiança de sua amada.  Essa versão da história pode ser encontrada em muitos contos de fadas, como: um conto popular na Rússia chamado "The Enchanted Tsarevitch" e também na China, "The Fairy Serpent”.

- De volta a Idade Média

As versões que vou abordar a seguir falam da crueldade vista nos contos dos irmão Grimm, apesar de A Bela e A Fera não fazer parte de seu repertório. Vale lembrar que toda a crueldade está contida de forma subliminar.

No século 16, o italiano Giovanni Francesco Straparola contou a história do “Re Porco” (Rei Porco), um homem bruto que recebeu esse nome por tratar asmulheres de forma cruel e dissimulada. Talvez haja uma sugestão de estupro aqui, uma vez que, na Idade Média, as mulheres não passavam de meros objetos para os homens.

Na Escandinávia foi encontrado o conto “East of the Sun and West of the Moon”. Aqui a fera é um urso
branco, que se transforma em homem para ir para a cama de Bela. Assim como Psique, Bela está proibida de olhar para seu rosto.

*Tanto no caso de Psique, quanto de Bela da Escandinávia, vejo a questão do abuso disfarçado. Quantas meninas cresceram ouvindo essa história de principe que um dia se revelaria e a pediria em casamento, quando na verdade eram abusadas por pais, irmãos, vizinhos ou qualquer outro homem. Era mais uma forma se subjulgar e silenciar pobres meninas que só buscavam um futuro melhor.

Outra versão que me deixou estarrecida foi a do francês Charles Perrault. Em 1697, ele reuniu o conto “Riquet a la Houppe” na compilação “Histoires ou Contes du Temps Passé”. Nessa versão fica a cargo do leitor descobrir se a Fera realmente se transforma em um homem ou apenas parece que se transforma aos olhos da mulher

* Isso me soa como a Sindrome de Estocolmo: a mulher sofreu tanto na mão do agressor que passar a buscar formas de se identificar com ele, afim de diminuir seu sofrimento, passando a defendê-lo e até se apaixonar por ele.

Depois de destruir minha infância...
... e a sua, provavelmente!

Agora sim, vamos falar de algo que nos é familiar \o/. Aquela moça que citei no início dos fatos históricos, você Lembra? Muito Bem. Gabrielle-Suzanne Barbot de Gallon de Villeneuve escreveu “La Jeune Amériquaine, et les Contes Marins”, uma série de contos para entreter seus amigos. Não, eles não eram crianças. Logo, seu conto também tinha conotação sexual.

Sua versão se tornou A Bela e a Fera que conhecemos. A história é um pouco maior, com a genealogia tanto de Bela, quanto de Fera. Nessa versão Bela era descendente da realeza e Fera, um príncipe amaldiçoado.

Mas a versão que serviu de base para o filme que fez com que todas nós sonhássemos com um princípe foi a de Jeanne-Marie Le prince de Beaumont. Em 1756, Jeanne-Marie escreveu uma versão curta da história de Gabrielle-Suzanne, que terminava com a transformaçaão de Fera em um belo princípe. O mais curioso é que nenhuma dessas mulheres descreveu a Fera, deixando aberta as portas da imaginação dos desenhistas da Disney.

Entào, é isso... na próxima e última parte desse artigo, vou tentar fazer uma análise da nossa querida Bela. A Bela da Disney, pelo amor de Deus. As Belas dos contos originais precisam de anos de acompanhamento psicológico! ÔÔ

Continua...


Kamila Mendes

1 comentários:

Keila Gon disse...

Estou impressionada com sua pesquisa! PARABÈNS PARABENS PARABENS!!! AMEI o texto! MUITO! BEIJOS
KEILA GON