terça-feira, 1 de outubro de 2013

O silêncio do Temporal

A água descia em gotas violentas, lavando e esfregando o chão sujo de asfalto e sanhue, de dor e violência. As telhas gemiam sob o impacto selvagem das gotas, a madeira rangia tentando se manter em pé, tamanha a fúria do vento. Arvores centenárias fincavam suas raízes o mais fundo que podiam, tentanto desesperadamente, não sucumbir a fúria da natureza.

E então veio o gelo, granizo. Bolotas de gelo sobre uma terra que nunca viu neve. O espanto, medo e horror. Ruas alagadas, casas inundadas, pessoas ilhadas.

O negro céu mostrando raiva e vingança por anos e anos de abuso humano. O gelo despedaçando telhados, outdors, caindo violentamente contra vidro, zinco e barro, derretendo tão logo toca o solo.

Horas negras, em que a natureza se vinga. Arvores arrancadas pela raiz, jogadas em carros, casas, atravessadas no meio da rua. Postes eletricos no chão. Semaforos apagados. Escuridão.

Horas de silêncio após o bravio rugido de pura vingança da natureza. Um dia pra marcar a vida de muitos. Um dia na escuridão do céu revolto, das casas sem luz, sem internet, sem telefone.

Voltaram ao tempo em que precisavam apenas da luz do Astro Rei e das velas. Ilhados no desespero causado por suas ações desmedidas e insensatas. Presos nas consequências de sua voracidade por consumir sempre mais e mais e mais.

A calmaria na escuridão era pior. Teorias do que acontecera ao resto da cidade. Nenhum telefonema, nenhum e-mail. Apenas o silêncio e a espera. Horas a fio, sentados na frente de casa observando o tempo ameaçadoramente se mexendo. Nuvens carregadas anunciando um novo temporal tão violento e devastado como o de outrora. Nenhum som, a não ser de vozes nervosas conversando futilidades, tentando romper o silêncio do temporal.

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Kamila Mendes

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