quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A beleza das cores


Via a vida em cores, não como todo mundo via. Era diferente e não sabia. Provava a veracidade da vida dizendo as palavras pausadamente e tocando suas cores com o paladar. Difícil descrever como fazia isso. Mas fazia. 

Desde pequena via cores nas formas e palavras, principalmente em nomes. Aprendeu a confiar em seu instinto colorido. Colecionava lápis de cores diferentes porque lhe lembrava como seu mundo era colorido. Saltava, pulava, sorria e gargalhava em tons vivos de pura magia. 

Sentia como se todos pudessem ver da mesma forma e se admirava de quão belo o mundo era. Divertia-se, sozinha, pronunciando palavra por palavra, silenciosamente, e vendo suas cores. “Essa é verde, aquela amarela. Juliana tem nome marrom avermelhado, como tijolo de construção”, e sorria sozinha de suas descobertas. 

Mas a vida a atingiu em cheio e as cores foram lentamente se tornando em tons de cinza. As cores foram sumindo e lentamente ela se deu conta que já não era mais a mesma. Fechava os olhos em um esforço absurdo de poder vê-las novamente e triste se sentava sozinha por não mais ter seu mundo particular de alegria. 

Descobriu, então, por acidente que nem todos viam e sentiam como ela. Se sentiu especial e viva, mas as cores já não eram suas companheiras. Mesmo assim comemorou não ser igual a todos. Contou aos seus íntimos e ficou feliz com aqueles que se alegraram. 

Ainda hoje corre atrás das cores. Elas ainda estão lá. Se estender bem a mão, pousam em seu dedo como borboletas que voltam pra seu recanto sagrado. Sabia que, em seu mundo infantil, as cores eram mais presentes e pueris, não porque estavam no passado, mas porque estavam onde deveriam estar: em um mundo de inocência e fantasia. 

Cresceu e o mundo se tornou hostil e rude. As cores ficaram tímidas e recatadas. Mas ainda existem. Voltam e correm ao seu redor. Dançam em círculos, correndo como crianças levadas, se escondendo atrás de suas pernas. Sorriem e a abraçam. São simples e puras criaturas de doce animo, que não pertencem a vida adulta. Mas ainda hoje, a menina corre atrás das cores e elas a abraçam em um momento terno de puro reconhecimento: pertencemos a você! 

*Um pequeno ensaio sobre ser sinestésica!

OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40

Kamila Mendes

2 comentários:

Maria Machado disse...

Olá querida poetisa...Parabéns,mais uma ves fiquei emocionada com seu poema,muito lindo...Desejo de todo meu coração que Deus te ilumine cada dia mais...Deus te abençõe!!!

Um carinhoso abraço.

MARIA MACHADO

Léia Naveca disse...

Mt me alegro com seus dons! e Mt sou honrada por Deus, por Ele permitir que eu tenha uma irmã toda especial.
bjoka.