Via a vida em cores, não como todo mundo via. Era diferente e não sabia. Provava a veracidade da vida dizendo as palavras pausadamente e tocando suas cores com o paladar. Difícil descrever como fazia isso. Mas fazia.
Desde pequena via cores nas formas e palavras, principalmente em nomes. Aprendeu a confiar em seu instinto colorido. Colecionava lápis de cores diferentes porque lhe lembrava como seu mundo era colorido. Saltava, pulava, sorria e gargalhava em tons vivos de pura magia.
Sentia como se todos pudessem ver da mesma forma e se admirava de quão belo o mundo era. Divertia-se, sozinha, pronunciando palavra por palavra, silenciosamente, e vendo suas cores. “Essa é verde, aquela amarela. Juliana tem nome marrom avermelhado, como tijolo de construção”, e sorria sozinha de suas descobertas.
Mas a vida a atingiu em cheio e as cores foram lentamente se tornando em tons de cinza. As cores foram sumindo e lentamente ela se deu conta que já não era mais a mesma. Fechava os olhos em um esforço absurdo de poder vê-las novamente e triste se sentava sozinha por não mais ter seu mundo particular de alegria.
Descobriu, então, por acidente que nem todos viam e sentiam como ela. Se sentiu especial e viva, mas as cores já não eram suas companheiras. Mesmo assim comemorou não ser igual a todos. Contou aos seus íntimos e ficou feliz com aqueles que se alegraram.
Ainda hoje corre atrás das cores. Elas ainda estão lá. Se estender bem a mão, pousam em seu dedo como borboletas que voltam pra seu recanto sagrado. Sabia que, em seu mundo infantil, as cores eram mais presentes e pueris, não porque estavam no passado, mas porque estavam onde deveriam estar: em um mundo de inocência e fantasia.
Cresceu e o mundo se tornou hostil e rude. As cores ficaram tímidas e recatadas. Mas ainda existem. Voltam e correm ao seu redor. Dançam em círculos, correndo como crianças levadas, se escondendo atrás de suas pernas. Sorriem e a abraçam. São simples e puras criaturas de doce animo, que não pertencem a vida adulta. Mas ainda hoje, a menina corre atrás das cores e elas a abraçam em um momento terno de puro reconhecimento: pertencemos a você!
*Um pequeno ensaio sobre ser sinestésica!
OBS: O texto foi escrito por mim e é proibido seu uso ou cópia integral, ou de fragmentos, sem a autorização da autora. O mesmo vale para todo e qualquer conteúdo deste blog que seja de minha autoria. Sua cópia ou uso sem autorização é qualificado como plágio, sendo configurado como crime previsto no Código Penal. O infrator está sujeito as punições previstas no Art. 184 do Código Penal - Decreto Lei 2848/40
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Kamila Mendes
Marcadores: Inspiração, Ponto de vista