Antes de tudo, quero deixar claro que esta não é uma crítica
oficial, ou uma resenha. É apenas a impressão que tive ao assistir o filme
Jogos Vorazes com um olhar um pouco mais crítico que o da maioria. Não tenho a
pretensão de influenciar ninguém, só de mostrar meu ponto de vista a cerca de
uma obra que promete alavancar as bilheterias em suas continuações. Tão pouco
cheguei a ler os livros. Logo, mais uma vez, deixo claro, não é uma crítica, não
é resenha, ou sinopse. Apenas meu ponto de vista. Tendo dito isto, vamos aos
trabalhos.
A história se passa 75 anos depois de os 13 distritos terem
se rebelado contra a Capital numa forma de se colocarem contra o forte sistema de
controle exercido em Panem (o que restou dos Estados Unidos em um futuro
distante). Após a rebelião, que resultou no extermínio do 13° distrito e em um regime ainda mais forte e
brusco, foi instituído que cada distrito cederia dois jovens, um menino e uma
menina, entre 12 a 18 anos, para participar dos Jogos Vorazes. Os jovens são
chamados de tributos e devem lutar até a morte nesta competição.
Alguém já ouviu falar da política de Pão e circo praticada na Roma Antiga na época dos gladiadores? Pois bem, é o mesmo esquema: os camponeses estavam migrando para a zona urbana, o crescimento populacional gerou problemas sociais, como a miséria. Para aliviar a pressão e impedir uma rebelião, o Imperador instituiu as lutas entre os gladiadores. durante o espetáculo de sangue, eram distribuídos alimentos: pão e trigo. Dessa
forma, a plebe se distraía e esquecia os problemas, ao mesmo tempo que se alimentava, logo a rebelião passava longe de suas mentes. Essas festas mantinham a população sobre o controle garantindo a coroa do Imperador.
The Hunger Games mistura a política do pão e circo da Roma Antiga com
o espetáculo do Reality Show de hoje. Enquanto 24 jovens lutam para sobreviver, seus esforços são transmitidos durante 24h para toda nação de Panem. E não interessa
muito o quão doloroso seja lutar na competição, quem decide o vencedor é a
Capital, na pessoa do Presidente Snow. O interessante é que muita gente assiste
e vibra e ajuda os participantes realmente acreditando que eles podem vencer.
Um ponto interessante: 24 jovens são escolhidos, somente um
sai vivo e recebe riquezas infindáveis. Resumo da ópera? Mantenha-se
fiel a capital, que te alimenta e protege, e você terá sempre condições de
permanecer vivo. Rebele-se e sua morte será cruel e dolorosa. Mensagem simples,
rápida e eficaz.
A sensação de controle sufoca. É como se você olhasse para
os lados e não visse saída. Mas é aí que os personagens principais entram em foco. Dois
adolescentes conseguem manipular as regras dos jogos e saem vivos, mas tudo ocorre de forma sutil. Dois ganhadores,
quando a regra é apenas um sobrevivente. A semente de uma nova rebelião é
plantada quando Katniss Everdeen e Peeta Mellarck manipulam o final do jogo e
ambos saem vencedor. Como o treinador deles fala, ‘não há nada que o público
queira mais que um casal jovem apaixonado’. Manipulando a audiência, eles
reverteram o jogo. Mas que fique claro, Katniss passa a manipular o público quando já não vê mais saída: é uma forma de garantir a sobrevivência de ambos.
Uma crítica a sociedade consumista, cega que vê no
espetáculo da vida alheia uma chance de sair de sua rotina fria e mesquinha. Sim,
Panem se parece bastante com a sociedade atual. Não entregamos nossos jovens a
morte certa com um público sedento por aventura. Mas eles morrem diante das câmeras
por falta de atenção, educação e comida. Enquantos muitos se divertem
discutindo quem deve ganhar o BBB ou A Fazenda, muitos morrem com fome, enquanto
políticos se sentem livres para decidir o melhor rumo que o país pode tomar
para lhes garantir uma aposentadoria melhor. Política do pão e circo: assistimos a vida alheia, enquanto morremos.
Confesso que conhecia The Hunger Games (nome original em
inglês) apenas de ouvir falar e muito antes do frenesi provocado pela estreia
do filme. Me senti inclinada a buscar mais sobre a história, mas como estava presa
a complexa trama de As Crônicas de Gelo e Fogo (confesso que ainda estou ávida para
descobrir quem reinará em Westeros e se sentará no Trono de Ferro) não me
aprofundei, nem procurei pelos livros. Mas essa é minha mais nova ambição:
mergulhar no universo de Hunger Games. Sim, tratarei tanto livro quanto filme
pelo nome original em inglês, pois me soa muito mais atrativo e icônico do que
Jogos Vorazes, facilmente confundido, pelos leigos, com Jogos Mortais, e sim,
já me perguntaram se era a continuação do referido filme.
OBS: Amei o filme, me senti envolvida na história. Torci pelo
romance de Katniss e Peeta e chorei muito na morte da Rue, principalmente
quando o Distrito 11 se rebela. Me arrepiei do inicio ao fim do filme. Meus parabéns!
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