Estranho como não consigo pensar em mim mesma sem você. Soa meio incompleto, sabe? Como se o badalar do sino tivesse uma única nota grave, destoante das demais. Como se o raio caísse sem ser anunciado pelo trovão.

Estranho pensar assim, porque, até bem pouco tempo atrás, eu existia sem você. De fato, meu eu não se via com ninguém, nem visualizava um futuro compartilhado.

Como é estranho, quando você resolve ajudar é criticada por não poder fazer mais. Mas se não fizer nada, será criticada assim mesmo. O mundo é estranho, ou melhor, as pessoas são estranhas.

Se você doa objetos e roupas para caridade é criticado por estar fazendo isso apenas para estufar o peito com soberba. Se ajuda dando dinheiro e conta a alguém, é hipócrita, se não conta, é criticado. Se resolve que vai ajudar na proteção animal, é criticado por estar dispensando tempo com animais e não com crianças.

Chorei tanto que doeu o coração. Doeu na alma a ausência que sinto de mim mesma. Doeu os gritos de desespero que chegaram aos meus ouvidos, gritos com o som da minha voz.

Qualquer risada parecia forçada e estranha ao meu ver. Minha cabeça doía só de pensar em sorrir.

Deitada de lado, podia sentir o calor do corpo indo ao encontro do seu. Era uma sensação de paz inigualável. Não havia maldade, luxúria, ou segundas intenções. Apenas a vontade de estar juntos unia os dois. Somente seus braços ao seu redor, lhe protegendo, eram suficientes.

Não havia um desejo arrebatador ou coisa parecida, só o desejo de ficar ali, ao lado do amor, sentindo seu respirar e aproveitando os segundos.